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O Papel e a Doutrina do Exército nos anos 1930 - Questão para Revisão de História do Brasil - Questões Comentadas

 


Questão 1: Pode-se dizer que Góes Monteiro tem uma visão nitidamente militarista. Suas apreciações sobre os exércitos de outros países baseiam-se sempre nos aspectos técnicos, denotando-se quase que nenhuma relação, contrariamente ao que ensina Clausewitz, com a questão política.

Considerando o texto apresentado, discuta a formação dos oficiais brasileiros a partir da influência das escolas militares alemãs e francesas e como isso contribuiu para a formulação de uma "doutrina militar de efeitos duradouros" e para a consolidação do papel político do Exército no período iniciado em 1930.

 

 

Comentário sobre a questão:

Para responder a essa questão, é necessário analisar a influência das escolas militares alemãs e francesas na formação dos oficiais brasileiros na época, e como essa influência se manifestou na formulação do papel do Exército. Além disso, é preciso avaliar a preocupação constante de alguns chefes militares com a consolidação do Exército e sua relação com a política, incluindo a intervenção direta ou indireta na política com o objetivo de assegurar o espaço próprio dos militares. É importante também examinar a formulação da "doutrina militar de efeitos duradouros", que buscava a identificação entre o Estado nacional e a institucionalização da identidade do Exército, e como essa concepção de nacionalidade e pátria foi desenvolvida para promover o progresso e desenvolvimento com base na unidade nacional. Em suma, a resposta deve apresentar uma análise cuidadosa do papel do Exército na década de 1930, considerando tanto a visão dos comandantes que assumiram na época quanto a influência das escolas militares estrangeiras e as formulações teóricas da época.

A Questão do Profissionalismo, como lembra José Murilo de Carvalho, no período iniciado em 1930, tem influência prevalescente sobre os militares brasileiros mais bem preparados e ecoa os ensinamentos ministrados à oficialidade tanto pelo Exército alemão antes de 1914, quanto pela Missão Militar francesa vinda ao Brasil depois da I Guerra Mundial. Parece-nos importante assinalar estas influências prevalescentes porque elas perduraram sob outras formas na formulação posterior do papel do Exército 87/641 brasileiro. Góes Monteiro, ressoando estas influências, em seu escrito sobre o Destacamento Mariante, de 1928, fala explicitamente do Exército como devendo ter a vocação de “grande mudo” e sobretudo de que sua verdadeira e única política é a “preparação para a guerra.” É justamente aqui que parece colocar-se um nó central para quem quer compreender o papel político do Exército naquele período. De fato, a preocupação constante de alguns chefes militares que alcançam postos importantes depois de 1930 volta-se à tarefa de consolidação do Exército, e esta tarefa acaba implicando, mesmo para aqueles mais voltados aos quartéis e menos à política explícita, a intervenção direta ou indireta na política ainda que com o objetivo de assegurar o espaço próprio, estamental, dos militares. A geração que se formara no período da Missão Militar francesa, rompendo rapidamente com os antigos chefes, ascende aos altos postos, depois de 1932/33 passa a deter o comando formal do Exército, e formula uma “doutrina militar de efeitos duradouros” que tinha como base uma identidade entre o Estado nacional e institucionalização da identidade do Exército. Sublinhe-se na formulação de Campos Coelho o termo duradouro, pois, certamente este conceito terá consequências profundas décadas após. É desta fase o desenvolvimento de uma concepção de nacional idade e de pátria que se volta à busca da compreensão de quais são as forças internas, à nação e ao Estado, que podem promover o progresso e o desenvolvimento que teriam como pressuposto básico uma verdadeira unidade nacional.

Vale uma observação sobre a simpatia de Góis Monteiro pelos alemães, em um período tão terrível. Mesmo nas ocasiões em que se defenderá das acusações de ser ou ter sido pró-alemão, reconhece sempre ter tido simpatia pelo Exército alemão e por aquilo que considerava sua admirável organização: “eu nunca admirei Hitler; admirava, sim, os Generais alemães.” De fato, não podemos encontrar, com exceção do período anterior à I Guerra Mundial, mesmo assim com peso relativo, qualquer influência importante alemã entre os militares brasileiros. Os “Jovens Turcos”, instruídos antes de 1914 na Alemanha, preocupam-se por introduzir preocupações técnicas e não demonstram maiores simpatias políticas por aquele país, mesmo nos anos sucessivos. Como já dissemos, depois da primeira guerra, a influência doutrinária determinante, até o fim dos anos 30, é a francesa.


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