Conheça meu curso intensivo de História do Brasil
1.
(Unb 2012) Até 1970, a região
metropolitana de São Paulo foi a “Pasárgada” brasileira: ali se instalaram as
principais indústrias, com os melhores empregos. Com a crise de 1980 e a
interrupção do ciclo de expansão econômica do país, ocorreu uma reestruturação
do mercado de trabalho, e o mapa migratório brasileiro começou a apontar para
novas direções.
L. P. Juttel.
Rotas migratórias: norte e centro-oeste, novos polos de migração. In: Ciência e Cultura, v. 59, n.º 4, 2007
(com adaptações).
Com relação ao assunto tratado no texto
acima, julgue os itens subsequentes.
( ) Verifica-se, na
reestruturação da rede urbana brasileira, motivada por fluxos migratórios, o
crescimento de cidades de porte médio que aumentam seu raio de influência.
( ) Apesar de ter representado,
no passado, um estímulo à interiorização da população brasileira, o Distrito
Federal chegou ao século XXI sem que tivesse sido consolidada uma região
metropolitana na região Centro-Oeste.
( ) O fluxo de sulistas em
direção à região Norte, em consonância com o avanço da fronteira agrícola,
contribuiu para o crescimento da população no campo e, ao mesmo tempo, retardou
o processo de urbanização da região.
( ) Em 1973, a crise do
petróleo, em decorrência de mais um conflito árabe-israelense, interferiu no
ritmo do denominado milagre brasileiro, o que abriu espaço a ação oposicionista
mais contundente.
( ) Entre as novas rotas de
fluxo populacional, inclui-se a chamada migração de retorno, caracterizada pela
saída dos centros urbanos e volta ao campo.
Resposta:
V – F – F – V
– F.
VERDADEIRO.
Em razão da saturação das metrópoles, ocorre no Brasil, a partir da década de
1990, o processo de desmetropolização, ou seja, a migração das grandes para
pequenas e médias cidades, gerando o crescimento das cidades milionárias
(cidades com mais de um milhão de habitantes).
FALSO. A RIDE
– Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno – foi
criada e regulamentada em 1998 e já é considerada como uma região
metropolitana.
FALSO. Os
projetos de colonização da região Norte, patrocinados pelo governo militar na
década de 1970, representaram o avanço sobre a última fronteira agrícola do
país, deslocando a população de áreas saturadas da porção centro-sul. Contudo,
tal evento não representou aumento da população do campo, haja vista que o
processo de urbanização no Brasil é irreversível, e tampouco retardou a
urbanização, pois ao contrário do que afirmou a alternativa, ocorreu o
crescimento das cidades na região amazônica a partir da migração dos sulistas.
VERDADEIRO. O
primeiro “choque do petróleo” oriundo das reverberações da Guerra do Yom
Kippur, em 1973, elevou as taxas de juros no mercado mundial, afetando o ritmo
de crescimento da economia nacional, levando o país a uma de suas piores crises
econômicas, marcada pela hiperinflação e pela desestabilização do governo
militar.
FALSO. A
migração de retorno é o fluxo populacional para a área de origem. No Brasil o
processo tem ocorrido mais intensamente a partir da década de 1990, sendo o
fluxo sudeste-nordeste o exemplo mais representativo.
2. (Unb 2012)
A produção de combustíveis oriundos da
biomassa faz parte das políticas de governo de vários países, entre os quais se
inclui o Brasil. A respeito desse tema, julgue os itens subsequentes.
a) O aumento da produção de etanol no Brasil
tem reduzido a concentração da posse de terras e incentivado a diversificação
agrícola.
b) No setor de transportes, o uso de
biocombustíveis tem sido considerado uma solução para a redução de gases de
efeito estufa, o que atende aos propósitos do Protocolo de Quioto.
c) Atualmente, a agroindústria açucareira,
tal como ocorreu no período colonial, fornece matéria-prima energética e
promove a interiorização da população brasileira.
Resposta:
INCORRETO. A produção de
etanol no Brasil tem como base o processamento da cana-de-açúcar, estimulando,
portanto, a produção monocultora que é praticada em grandes propriedades, fato
que tem contribuído para agravar a concentração fundiária no país.
CORRETO. Considerando que o
Protocolo de Quioto é um tratado internacional cujo objetivo é a redução dos
gases que intensificam o efeito estufa, o biocombustível tem apresentado, até o
momento, a melhor adequação para a substituição dos combustíveis fósseis.
INCORRETO. No período colonial a produção da cana-de-açúcar atendia à
fabricação do açúcar para exportação, determinando, portanto, sua localização
nas áreas litorâneas. Atualmente a produção atende ao mercado sucroalcooleiro e
ainda está localizada nos estados costeiros.
3.
(Unb 2012) Quando estou alegre, uso os
meridianos da longitude e os paralelos da latitude para trançar uma rede e vou
em busca das baleias do Oceano Atlântico.
Mark Twain. Life
on the Mississipi. In: Dava Sobel.
Longitude. Rio
de Janeiro: Ediouro, 1996, p. 11.
Com base no trecho acima, de Mark Twain, e
nos conhecimentos necessários à localização e ao deslocamento na superfície
terrestre, assinale a opção correta.
a) Mark Twain faz alusão ao
sistema de coordenadas geográficas, o qual é referência para a localização de
quaisquer pontos na superfície da Terra.
b) A longitude é definida a
partir de meridianos, que, estabelecidos paralelamente entre si, determinam a
localização dos hemisférios oriental e ocidental.
c) A latitude é medida, em
graus, a partir da linha do Equador (0°) em direção tanto ao hemisfério Norte
quanto ao hemisfério Sul.
d) Para a localização no
espaço terrestre, o GPS (global position
system) tem-se revelado mais eficiente que a determinação da latitude e da
longitude.
Resposta:
[A]
A citação
utilizada no enunciado descreve as coordenadas geográficas ao mencionar as
medidas tomadas pela latitude e longitude, corretamente indicadas na
alternativa [A]. Estão incorretas as alternativas: [B] e [C], porque citam,
respectivamente, somente a longitude e a latitude; [D], porque o sistema de
localização do GPS tem como base o sistema de coordenadas geográficas.
4.
(Unb 2012) Leia o texto a seguir.
Sem colonização não há uma boa conquista e,
se a terra não é conquistada, as pessoas não serão convertidas. Portanto, o
lema do conquistador deve ser colonizar.
Francisco López
de Gómara. Historia general de las Indias.
Madri: 1852, p. 181.
A apreciação acima, proferida por um eclesiástico
do século XVI, expõe aspectos envolvidos no assentamento e desenvolvimento do
império espanhol na América. Acerca desses aspectos, assinale a opção correta.
a) Na região andina, desde o
primeiro momento, houve forte resistência ao avanço da conquista espanhola,
principalmente nas cidades de Potosi e La Plata.
b) A área que atualmente
pertence ao Chile foi a que menos resistência ofereceu à colonização espanhola,
em virtude de sua baixa densidade demográfica e do caráter tribal da população.
c) A mesoamérica, onde havia
uma organização político-administrativa pré-colombiana, é exemplo de
colonização de sucesso, uma vez que, nesse território, os espanhóis deram
continuidade às estruturas existentes.
d) No vice-reino do Peru, os
espanhóis permitiram que o cargo de gobernador
fosse exercido por membros das famílias da elite indígena, estratégia que
perdurou até o fim da era colonial.
Resposta:
[D]
Conforme a
alternativa propõe, tal situação não passou de uma estratégia política para
facilitar a dominação. A dominação espanhola deve ser entendida como imposta
pela força militar e pelas imposições socioeconômicas. Para minimizar a
resistência, a elite indígena possuía privilégios aparentes. Vale lembrar que o
cargo de “governador” tinha poderes limitados e estava subordinado à figura do
Vice-Rei.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
Um exemplo de embaixada alegórica é
apresentado no vídeo Festa do Rosário dos
Homens Pretos do Serro, que começa com a narração da seguinte história.
“Dizem que Nossa Senhora tava no meio do
mar. Aí vieram os caboclos e lhe chamaram, mas ela não veio não. Depois vieram
os marujos brancos, mas ela só balanceou. Aí chegaram os catopês. Eles
cantaram, tocaram só com caco de cuia e lata veia. Ela gostou deles, teve pena
deles e saiu do mar”.
Trata-se de um mito de reconciliação e
integração, bem como de uma compensação simbólica para a experiência histórica
de escravidão negra em Minas Gerais. Essa experiência é abertamente expressa em
muitos textos musicais das congadas.
José Jorge de
Carvalho. Um panorama da música
afro-brasileira. In: Série
Antropologia. Brasília: Editora da UnB, 2000.
5.
(Unb 2012) Do ponto de vista
histórico, o texto revela que os escravos africanos e seus descendentes no
Brasil preservaram
a) sua cultura religiosa
ancestral, mas, em um processo sincrético, mostraram-se receptivos ao
cristianismo do dominador.
b) sua identidade cultural ou
étnica, embora tivessem de recorrer a disfarces, como o das confrarias
religiosas cristãs, das quais é exemplo a de Nossa Senhora do Rosário dos
Pretos.
c) rituais ancestrais de forma
pura, mas pagaram alto preço por isso, como demonstram as perseguições que
sofreram.
d) seu panteão religioso e seu
sistema eclesiástico, embora os tenham adaptado à lógica cristã, como
evidenciado na associação entre Virgem Maria e Iemanjá.
Resposta:
[A]
Apesar de não
terem sido o alvo dos jesuítas catequizadores, a adoção da religião católica,
ou mesmo o sincretismo, foi uma forma encontrada pelos africanos, principalmente
os alforriados, de se sentirem aceitos em uma sociedade que, ao longo do tempo,
promoveu sua exclusão.
6.
(Unb 2012) No início do século XX,
estudiosos esforçaram-se em mostrar a continuidade, na Grécia Antiga, entre
mito e filosofia, opondo-se a teses anteriores, que advogavam a descontinuidade
entre ambos.
A continuidade entre mito e filosofia, no
entanto, não foi entendida univocamente. Alguns estudiosos, como Cornford e
Jaeger, consideraram que as perguntas acerca da origem do mundo e das coisas
haviam sido respondidas pelos mitos e pela filosofia nascente, dado que os
primeiros filósofos haviam suprimido os aspectos antropomórficos e fantásticos
dos mitos.
Ainda no século XX, Vernant, mesmo aceitando
certa continuidade entre mito e filosofia, criticou seus predecessores, ao
rejeitar a ideia de que a filosofia apenas afirmava, de outra maneira, o mesmo
que o mito. Assim, a discussão sobre a especificidade da filosofia em relação
ao mito foi retomada.
Considerando o breve histórico acima,
concernente à relação entre o mito e a filosofia nascente, assinale a opção que
expressa, de forma mais adequada, essa relação na Grécia Antiga.
a) O mito é a expressão mais
acabada da religiosidade arcaica, e a filosofia corresponde ao advento da razão
liberada da religiosidade.
b) O mito é uma narrativa em
que a origem do mundo é apresentada imaginativamente, e a filosofia
caracteriza-se como explicação racional que retoma questões presentes no mito.
c) O mito fundamenta-se no
rito, é infantil, pré-lógico e irracional, e a filosofia, também fundamentada
no rito, corresponde ao surgimento da razão na Grécia Antiga.
d) O mito descreve nascimentos
sucessivos, incluída a origem do ser, e a filosofia descreve a origem do ser a
partir do dilema insuperável entre caos e medida.
Resposta:
[B]
A alternativa
[B] é a mais correta. O mito pode ser caracterizado pela sua narrativa
fantástica e que serve de modelo explicativo sobre a origem das coisas e do
porquê delas serem como são. A filosofia, em contrapartida, ainda que faça
indagações similares a essas, rejeita as explicações fantásticas, considerando
a razão como critério de veracidade de suas análises e explicações.
7.
(Unb 2012) O emplasto
Um dia de manhã, estando a passear na chácara,
pendurou-se-me uma ideia no trapézio que eu tinha no cérebro.
Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a
pernear, a fazer as mais arrojadas cambalhotas. Eu deixei-me estar a contemplá-la.
Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma
de um X: decifra-me ou devoro-te.
Essa ideia era nada menos que a invenção de
um medicamento sublime, um emplasto anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a
nossa melancólica humanidade.
Na petição de privilégio que então redigi,
chamei a atenção do governo para esse resultado, verdadeiramente cristão.
Todavia, não neguei aos amigos as vantagens pecuniárias que deviam resultar da
distribuição de um produto de tamanhos e tão profundos efeitos. Agora, porém,
que estou cá do outro lado da vida, posso confessar tudo: o que me influiu
principalmente foi o gosto de ver impressas nos jornais, mostradores, folhetos,
esquinas e, enfim, nas caixinhas do remédio, estas três palavras: Emplasto Brás
Cubas. Para que negá-lo? Eu tinha a paixão do arruído, do cartaz, do foguete de
lágrimas. Talvez os modestos me arguam esse defeito; fio, porém, que esse talento
me hão de reconhecer os hábeis. Assim, a minha ideia trazia duas faces, como as
medalhas, uma virada para o público, outra para mim. De um lado, filantropia e
lucro; de outro, sede de nomeada. Digamos: — amor da glória.
Um tio meu, cônego de prebenda inteira,
costumava dizer que o amor da glória temporal era a perdição das almas, que só
devem cobiçar a glória eterna. Ao que retorquia outro tio, oficial de um dos
antigos terços de infantaria, que o amor da glória era a coisa mais
verdadeiramente humana que há no homem e, consequentemente, a sua mais genuína
feição.
Decida o leitor entre o militar e o cônego;
eu volto ao emplasto.
Machado de
Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas.
Obra completa, v. I. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992, p. 514-5 (com
adaptações).
A frase “Decifra-me ou devoro-te” remete ao
enigma da esfinge, consagrado na tragédia grega Édipo Rei, de Sófocles. A formulação de um enigma envolve jogos de
palavras e associações semânticas ambíguas e paradoxais, que parecem conduzir a
respostas impossíveis ou absurdas. A decifração de um enigma está associada,
portanto, a grande capacidade de raciocínio e de reflexão e, não menos, a
domínio das palavras e da língua. Assim, quem decifra um enigma será
considerado um ser superior, de saber excepcional, cujas palavras serão
respeitadas e seguidas. Com relação às questões envolvidas na decifração de um
enigma e ao tema a que o texto de Machado de Assis se reporta, assinale a opção
correta.
a) A resolução, pelo narrador,
da situação enigmática demandou o processo de uma ideia em evolução e, assim, a
resposta, ou seja, a invenção do emplasto Brás Cubas, não encerra ambiguidade
nem paradoxo, ao contrário do que ocorre com os demais enigmas.
b) O poder intelectual do
narrador evidencia-se em ações de relevância humanitária, o que, como enfatiza
o próprio narrador, alcança reconhecimento em instâncias de representação
política.
c) A reação do narrador a
comentários dos tios sinaliza que o embate entre tipos e âmbitos de poder é
resolvido pelo saber.
d) O episódio da resolução do
enigma evoca um momento vitorioso de Brás Cubas no que se refere à sua
capacidade de admitir sentimentos passionais por meio de argumentação racional.
Resposta:
[C]
Caso devamos
fazer uma correlação entre Brás Cubas e Édipo, então precisamos considerar que
a esfinge é o Emplasto. Segundo a narração de Machado de Assis é da ideia do
medicamento que surge a seguinte perplexidade moral: realizo a feitura deste
remédio porque desejo o meu nome no rótulo ou porque desejo salvar a todos de
sua melancólica humanidade? Qual a resposta para este enigma? O conhecimento do
cônego diz que a glória precisa ser eterna e não se deveria buscar a fama do
nome, já o conhecimento do militar afirma o contrário. Diferentemente daquele
enigma grego, este enigma brasileiro não parece possuir resposta. Apesar de o
próprio Brás Cubas dar a pista de que ele tendia para o lado do tio oficial de
infantaria, ao final a questão é, simplesmente, reposta.
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