Atritos entre Estados Unidos e Europa: Quando divergências entre aliados históricos pode ter impacto Global
Vocês viram que em
abril desse ano o Macron foi pra China e se encontrou com o presidente Xi
Jinping, né? Eles conversaram por umas 6 horas sobre Europa, Rússia, Taiwan...
assuntos importantes. Aí, no voo de volta pra casa, o Macron soltou uma
declaração polêmica, dizendo que a Europa devia buscar mais "autonomia
estratégica" em relação aos EUA. Que o continente não deveria simplesmente
aceitar e seguir a agenda americana, e não deveria se envolver em crises que
não são deles. Ele até sugeriu que os países europeus diminuíssem a dependência
pro dólar americano pra não virar "vassalos" de Washington.
Essa fala do Macron
caiu como uma bomba nos Estados Unidos. O deputado Mike Gallagher, presidente
da comissão da Câmara que investiga o Partido Comunista Chinês, chamou os
comentários de "vergonhosos" e "ultrajosos". O Ian Bremmer,
fundador do Eurasia Group, escreveu que a fala do Macron mostrava arrogância e
falta de bom senso. O senador Marco Rubio até sugeriu em um vídeo que os EUA
deveriam cortar ajuda pra Europa em retaliação. Disse que o continente dependeu
demais dos Estados Unidos nos últimos 70 anos e que, se querem seguir o Macron,
então que se virem sozinhos e nos poupem dinheiro.
Essa raiva toda em
relação ao Macron pode parecer exagerada, mas também é compreensível. Os
Estados Unidos estão numa competição acirrada com a China e têm medo que a
Europa, seu maior aliado, não esteja do lado deles. O chanceler alemão Olaf
Scholz também tem buscado se aproximar da China, importante parceira comercial
da Alemanha. Scholz chegou a escrever num artigo que a Alemanha não tem
interesse em ver o mundo separado em blocos novamente. Pesquisas mostram que a
maioria dos europeus prefere ficar neutra numa possível guerra entre China e
EUA por causa de Taiwan.
Mas essas
divergências não são necessariamente ruins. Na verdade, um pouco de debate e
visões diferentes podem ser saudáveis. Os aliados às vezes servem pra alertar
os Estados Unidos quando uma ideia é furada, impedindo decisões precipitadas e
perigosas. Foi assim com o Iraque e o Vietnã, enquanto a Guerra do Golfo em
1991 teve apoio dos aliados e foi bem-sucedida.
No ano de 1966, em
plena guerra fria, 4 anos após a crise dos mísseis, o general De Gaulle, uma
figura icônica na história francesa, tomou uma decisão que marcaria
profundamente a política internacional. Ele decidiu retirar a França do comando
integrado da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), uma instância
decisória das operações militares. A razão para essa mudança significativa foi
sua recusa em permitir que os armamentos nucleares franceses ficassem sob
controle dos americanos. Essa questão era particularmente importante, uma vez
que os Estados Unidos haviam liderado a OTAN desde sua fundação em 1949. A
decisão de De Gaulle continua a ser interpretada por muitos franceses como um
símbolo do não alinhamento da França com a política externa dos Estados Unidos.
Vejam que era o período que chamamos de mundo bipolar, mas nem por isso a
lógica das relações entre os estados era automática com agenda totalmente
fechada.
Na Guerra da Coreia, por exemplo, os aliados ajudaram a conter os EUA e evitar o uso de armas nucleares contra a China. Já hoje em dia, a Europa tem pressionado os Estados Unidos a não cortar todos os laços econômicos com a China, o que poderia levar a uma nova Guerra Fria. E como temos visto, independente do governo, democrata ou republicano o acirramento das tensões permanece, o que não é acompanhado na mesma intensidade pelo velho continente. Então, alguma independência europeia pode ser positiva pala frear, mesmo que minimamente a escalada dessas tensões.
E tem mais: a
autonomia da Europa também modera o comportamento chinês. Pequim está
desesperada pra ter a Europa do seu lado contra os EUA. Por isso, a China tem
evitado apoiar abertamente a invasão da Ucrânia pela Rússia, um ponto sensível
pros europeus. Sem a aproximação com a Europa, a China poderia se unir por
completo com a Rússia.
No final das
contas, os Estados Unidos sempre cobraram que a Europa aumentasse os gastos com
defesa e parasse de depender tanto da proteção americana. Agora que a Europa
está ficando mais independente, os americanos têm que aceitar algumas
divergências.
Claro que de vez em
quando ainda vai ter atrito, declarações pró-China aqui e ali, viagens dos
europeus pra Pequim... Mas pesquisas mostram que a imagem dos EUA segue
positiva na Europa, enquanto a visão sobre a China piora. E em votações
importantes como sanções, a Europa ainda tende a apoiar a posição americana.
Então essas diferenças pontuais não devem ser motivo de pânico. Um pouco de debate só fortalece a relação. Como disse o Obama, o multilateralismo serve pra controlar a arrogância. A união faz a força, mas a diversidade também tem seu valor. É isso aí, meus amigos, ficamos por aqui, um grande abraço.
Professor Arão Alves.
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