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Crise do Socialismo Real - Textos do Professor Arão Alves

 

Olá, meus amigos e minhas amigas, como vocês estão? Na texto de hoje falaremos sobre achamada crise do socialismo real, ou seja, em outras palavras, sobre o fim da guerra Fria.

Vamos lá?

Em nossa última aula sobre a guerra fria, falávamos do processo de desestalinização, do cisma, soviético e da chamada coexistência pacífica. Além disso, falamos da crise dos mísseis  e o quão perto, mesmo nesse período chamado de coexistência pacífica, estivemos de um confronto atômico entre as duas super potências. Essa coexistência passou acabou evoluindo para uma relação na qual já era possível até mesmo uma certa cooperação, era a chamada deténte. A Deténte marcou a relação entre as superpotências nas décadas de 1960 e 1970. Essa situação pode ser explicada por diferentes fatores, entre eles uma certa tendência a multipolaridade, que gerava maior independência de alguns países em relação à órbita soviética e americana. Tanto o Japão quanto a Europa Ocidental estavam plenamente recuperados e se consolidavam como importantes forças econômicas no cenário internacional. Além disso, O terceiro mundismo apresentava uma agenda para além da ênfase dada a agenda de segurança  que Moscou e Washington tradicionalmente enfatizava. Novos temas, como desenvolvimento, desarmamento, meio ambiente, entre outros, demonstravam que o mundo já não podia ser refém de uma agenda monotemática pautada unicamente na  segurança e na rivalidade hemisférica.  Lembram da PEI de Jânio Quadros e do Pragmatismo ecumênico e responsável de Geisel? Do terceiro mundismo da conferência de Belgrado em 1961? O próprio bloco ocidental já não era tão coeso assim.  O nacionalismo francês, vivia incomodado com as pressões americanas na Comunidade econômica Europeia, sem contar com as relações privilegiadas de Washington com a Alemanha Ocidental e a Grã-Bretanha. Isso tudo acaba resultando na atitude do presidente francês Charles De Gaulle, que retira a França da Otan em 1966. Gente, até mesmo a simbólica rivalidade entre a Alemanha oriental.

A República democrática alemã e a Alemanha Ocidental, República Federal Alemã passava por modificações. Em 1969, chegava ao poder na Alemanha ocidental o social demomocrata Willy Brandt com uma nova proposta em relação ao relacionamento entre as duas Alemanhas e com o próprio leste europeu. Essa busca por cooperação foi a chamada Ostpolitik.

Percebam então, que é  nesse contexto que as tensões entre os blocos diminuem promovendo uma maior aproximação entre as duas super potências.

A cooperação da Dètente permitiu que EUA e URSS assinassem, em 1972, os tratados SALT I e ABM. Por esses tratados, os dois países davam um importante passo em direção ao desarmamento. Pelo primeiro tratado eles se comprometiam a limitar, congelar por cinco anos o número de lançadores de mísseis balísticos intercontinentais. Já o ABM firmava o compromisso de Moscou e de Washington de não instalar escudos antimísseis. Esse último tratado vigorou por trinta anos. Como vocês podem perceber esse assunto de acordos nucleares tratavam de um tema super sensível para a segurança dos dois países. Para exemplificar ainda mais esse período da Deténte, podemos lembrar da corrida espacial. A aproximação entre os dois países possibilitou até mesmo cooperação nessa área como no caso do projeto Apollo-Soyos, que possibilitou a acoplagem, em órbita da nave Soyos soviética com a Apollo norte americana.

Por mais que a cooperação fosse positiva para o mundo, internamente, não era uma boa década para os Estados Unidos. A dificuldade com a Guerra do Vietnã, os altos gastos levaram os EUA a uma política emissionista, isso em desacordo com o acordo de Bretton woods. Logo no Início da década, Nixon rompe com a conversibilidade dólar ouro. A saída pouco glamourosa das tropas americanas do território vietnamita, os escândalos de Watergates, que acabam derrubando a tradicional confiança do americano na figura do presidente da república e tudo isso acaba demonstrando que a década não estava para os americanos. Mas como eu sempre digo, nada é tão ruim que não possa piorar, e o ano de 1979 está ai para fortalecer minha teoria.

Em 1979, o Irã, país que vinha sendo governado pelo Xá Reza Palevi, e que se ocidentalizava sob a influência americana, é abalado por uma Reviravolta, foi a revolução iraniana, que resgatou a teocracia no país reavivando um forte antiamericanismo. Tá ruim? Mas pode piorar mais um pouco. Jovens radicais iranianos invadem a embaixada americana de Teerã, e tomam diplomatas e funcionários como reféns.

O impasse coloca o governo americano em uma situação difícil, e presidente, Jimmy Carter resolve fazer uma demonstração de força, ordenando uma operação de resgate. Foi um desastre, um fracasso, helicópteros em pane, pouso forçado no deserto, a Operação Eagle Claw foi um vexame e, segundo o próprio presidente, foi uma das causas de ele não conseguir se reeleger em 1980. Que ano para os americanos não é? Mas tem mais. Na Nicarágua o governo pró-americano da família dos Somosa, que governavam o pais desde a década de 1930, acaba sendo derrubado pela revolução sandinista. Mas nada foi mais representativo do fim da Deténte do que a Invasão do Afeganistão pela URSS nesse mesmo ano. Parece que enquanto os Estados Unidos se encolhia a URSS se expandia. 

É nesse contexto que se inicia a década de 1980 e as eleições daquele ano levam ao poder um ator que tinha como missão retomar para os EUA sua posição de protagonista na Guerra Fria. Era o Fim da Detente e o início do breve período da nova guerra fria. 

É comum, em boa parte dos livros didáticos atribuir-se a Ronald Reagan a inauguração da Nova Guerra Fria, Embora essa afirmação não esteja errada, é importante chamar atenção para o fato de que entre 1978 e 1979, ainda durante a gestão de Carter, o Congresso aprova um aumento do orçamento militar do país. Além disso, foi em 1979, que os EUA colocam água nos chamados Acordos Salt II, que previa limitação das armas nucleares por parte das superpotências. Mas com a chegada de Reagan ao Poder, a situação realmente se mostra de forma mais clara. Os encontros de cúpula que marcaram o período da detente perdem força e a política da “intimidação” volta `a cena. 

Os movimentos guerrilheiros de resistência aos soviéticos no Afeganistão passam a ser financiados pelo governo americano, com a participação de técnicos militares, sem contar o fato de os EUA terem comandado o boicote às olimpíadas de 1980, que aconteceram em Moscou. 

Durante o governo de Reagan, ocorreu também o caso Iran-contras, escândalo que foi revelado pela imprensa durante o seu segundo mandato. Descobriu-se que o governo americano estaria, por debaixo dos panos, burlando o embargo de armas imposto ao Irã. Na verdade, os EUA contrabandeavam armas para o regime iraniano, em troca do financiamento iraniano aos contras na Nicarágua. Lembram que eu falei lá atrás sobre a revolução sandinista no ano de 1979, que tinha retirado do poder na Nicarágua um governo pró-americano? Então, um grupo local, chamados “Contras” passam a sustentar uma luta armada contra o novo governo de base sandinista, considerado de orientação comunista. Entendeu a triangulação. Para não sair na “foto” como financiador de Guerrilha na Nicarágua, Reagan deu um jeito de enviar dinheiro para os contra através dos iranianos. 

Mas o simbólico desse novo momento, dessa nova guerra fria, também chamada de segunda guerra fria, foi o lançamento, por parte de Reagan, do projeto The Strategic Defense Initiativ (SDI). Iniciativa de defesa stratégica. Antes de continuar, deixa eu fazer um breve relato sobre  importante evento da cultura pop daquele momento. Um dos maiores fenômenos do cinema, que revolucionaria a cultura pop mundial foi lançado em 1977 por George Lucas. Os mais nerds ou aficionados já sabem do que eu estou falando. Falo de Star War, do primeiro filme. Sua continuação veio em 1980 com Império contra ataca e, em 1983, o famoso Retorno de Jedi. Uma verdadeira febre mundial. Mas professor

 Arão, o que isso tem a ver com a Guerra Fria? 

Elementar, meu caro Watson,  o Ex-ator e presidente americano, Ronald Reagan, lança um projeto que vai propor um sistema de defesa espacial.  Funcionaria mais ou menos assim: Diversos radares com longo alcance seriam instalados no solo e fariam contato com satélites instalados na órbita do planeta. Esses satélites seriam equipados com sistemas de rastreamento de mísseis, além de capacidade de ataque contra mísseis em trajetória de ataque contra o território norte americano. A proposta era a de construir um escudo espacial para proteger o território americano de ataques originados de qualquer parte do planeta. 

 Você concorda que esse nome “strategic Defensive iniciative é muito feio? Adivinha como acabou ficando conhecido o projeto de Reagan? Caramba você é bom mesmo, heim? Isso mesmo, passou a ser chamado de Star War, guerra nas estrelas.

Sintetizando, simplificando mesmo, podemos dizer que os altos custos que envolviam o projeto demonstravam que os EUA estavam disposto a investir alto em tecnologia para garantir a hegemonia militar nessa nova corrida armamentista que se apresentava. No contesto de guerra Fria, restava a URSS, colocar suas cartas na mesa e fazer os investimentos necessários para, ao menos não ficar para trás.

A URSS, ao contrário do mundo ocidental, não havia feito reformas significativas em seu processo produtivo. Se no ocidente havia adotado a flexibilidade do Toyotismo, a União Soviética ainda se mantinha, de certa forma, presa a rigidez de um modelo de inspiração fordista. Além disso, os embargos comerciais americanos, os altos gastos militares, incluindo ai sua aventura no Afeganistão,  afetavam a capacidade de reação de Moscou. Sua capacidade de interferir nos movimentos terceiros mundistas que se espalhavam pelo mundo, também fica comprometida. A gente pode dizer que eles jogam a toalha. 

Será que eles fazem reforma? Isso é fácil para eles? 

Continuamos na postagem de amanhã.

 Aguardo vocês.

 Professor Arão Alves   

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