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A Unificação Italiana - Professor Arão Alves

 

Olá, meus queridos amigos e minhas queridas amigas,, como vocês estão? Animados para o texto de hoje? Nesse texto falaremos sobre a unificação Italiana, que está no contexto das chamadas Unificações Tardias.  Vamos ao texto então.

Assim como no caso da Unificação Alemã, a industrialização desempenhou papel crucial no processo de unificação. Não é por acaso que, assim como no caso alemão, o Estado que liderou a unificação foi o Estado mais industrializado.

Sob o ponto de vista histórico, também podemos identificar similaridade entre a Itália e a Alemanha. A Alemanha, ou império sacro romano germânico, durante os séculos XVI e XVII foi devastada por guerras religiosas, na disputa entre católicos e protestantes que disputavam sua hegemonia no país. Na Itália, essas disputas foram minimizadas pela atitude firme da Igreja, principalmente quando consideramos o concílio de Trento e a contrarreforma. A Itália, ou para deixar bem claro, o acidente geográfico que chamamos Península Itálica, sofria pressões externas. No Norte, essas pressões vinham principalmente da Áustria. Além disso, aproximadamente um terço da península era propriedade papal, naquilo que era chamado de Províncias pontifícias.

 O sonho de com uma Itália unificada era algo antigo. O exemplo mais notório desse deseja foi o expresso por Nicolau Maquiavel, ainda no século XVI. Por falar nisso, O seu conhecido livro o Príncipe, teria sido escrito com esse objetivo, dotar um príncipe de conhecimento político que o capacitasse a promover uma unificação capaz de garantir estabilidade para a Península. Mas seria no século XIX, que esse sonho se tornaria realidade, e, como já dissemos, o processo de industrialização seria um dos ingredientes para que esse prato fosse servido naquele século.

 Havia vários projetos ou concepções acerca de uma Itália unificada ideal. Dentre esses projetos, podemos destacar três. O primeiro acreditava que o Estado italiano que surgisse dessa unificação, deveria ser democrático e como forma de governo a República. Esse grupo era de base carbonária e laica. Além de defenderem um Estado Laico, defendiam também uma forma de Estado Unitário, como é o Uruguai, sem a divisão em entes autônomos que são características dos modelos federativos como aqui no Brasil.

 O segundo grupo era ligado ao papado, e é claro achavam que o melhor para a Itália unificada seria uma confederação, que deveria ser liderada pelo sumo pontífice, o papa. Essa corrente, que também contava com a simpatia austríaca, era conhecida como neoguelfismo.   Mas quem seria o terceiro grupo. Bom de cara já vou dando spoiling, foi o terceiro grupo que saiu vencedor. Poxa professor, assim perde a graça. Eu te contei para que você preste atenção nas características desse grupo e depois confira se ele foi capaz de implantar o seu projeto de Itália. Vamos conhecer esse terceiro grupo?

 Então, de cara, podemos afirmar que esse grupo contava com certa influência maçônica e achava que o reino do Piemonte reunia as condições propícias para liderar esse processo de unificação. É claro que, se estaria sob a direção de um reino a Unificação, a Itália deveria ser uma monarquia, certo??

Isso mesmo, certo!! Pensou que era pegadinha, o projeto desse grupo era a formação de uma monarquia italiana, no entanto, uma monarquia liberal e laica.

Mas o Reino de Piemonte sozinho não seria capaz de concluir o processo de unificação. Auxílio externo e até mesmo alianças dentro da península seriam necessárias para viabilizar esse antigo e ambiciosos projeto.

 Mas a uni­ficação era impossível a partir apenas da força dos atores locais, sendo necessárias alianças internas e externas.

 Mas não podemos deixar de citar o movimento conhecido como jovem Itália, baseado em forte nacionalismo e na defesa do modelo republicano. O principal líder desse movimento foi Giusepp Mazzini. Claro que, no Sul, outro importante líder defensor do modelo republicano não pode ser esquecido. Em parte, por que ele era um velho conhecido de nossa história aqui no Brasil.  Só para te localizar, Entre 1835 e 1845, o império brasileiro viveu no Sul uma revolta separatista, era a guerra dos farrapos, ou simplesmente farroupilha.

Um jovem romântico italiano veio para cá e acabou se tornando um importante líder farroupilha, aqui, acabou conhecendo nas batalhas uma mulher   chamada aninha, mas como o italiano não conseguia pronunciar o dígrafo nh, passou a chama-la de Anita. Sabe quem era essa Anita, que não cantava nem dançava, mas atirava e andava a cavalo como ninguém? Anita Garibaldi, que se tornou mulher desse corsário italiano, Giuseppe Garibaldi. Vocês devem ser muito novos, mas a mãe ou o pai de vocês deve lembrar de uma minissérie chamada A casa das sete mulheres, que retratava a guerra dos farrapos, quem fazia o papel de Giuseppe Garibaldi era O Thiago Lacerda.

Mas Professor, a aula não era sobre Unificação italiana? Sim, é que após a derrota dos farrapos, Garibaldi e sua esposa retornam a Itália e acabam liderando uma luta pela unificação a partir do sul da península. Em 1860, à frente de cerca de mil homens, Garibaldi ataca a Ilha da Sicília. Percebendo que seu projeto republicano tinha poucas chances de se concretizar, Garibaldi acaba aderindo ao projeto liderado por Piemonte. O rei Piemontês, Victório Emanulele, havia anexado a Lombardia no ano anterior, e é dessa forma que as lutas de unificação seguiriam dois movimentos, um norte sul, e outro sul norte.

 Fui falar de Garibaldi, me empolguei e acabei avançando demais, então vamos voltar um pouquinho, deixa eu arrumar a sua cabeça primeiro. Falamos, inicialmente dos principais grupos e seus respectivos projetos, citei os carbonários, o movimento jovem Itália de Mazzinni, e camisas vermelhas, ou mil de Garibaldi. Falei para vocês que O modelo vencedor seria a monarquia liberal liderada por Victor Emannuel. Falei que a Unificação era uma tarefa muito difícil para que apenas o grupo ligado a Piemonte conseguisse concretizá-la. Já vimos que, ao menos uma aliança interna, a com Garibaldi, havia sido feita, mas seria só isso mesmo? Vamos lá.

Assim como na unificação alemã o Kaizer Guilherme I teria em Bismarck o principal articulador do processo, O rei Victório Emannuelle teria também o seu articulador. Quem seria o “Bismarck” do rei piemontês? Seu primeiro-ministro, o conde  Camilo de Cavour.

Cavour afirmava que a unificação italiana teria que enfrentar sua principal inimiga. A influência austríaca na península.

O desenvolvimento do reino sardo piemontês, Piemonte-sardenha, a partir de uma economia liberal transforma o país em Estado com grande potencial de industrialização. A unificação, além dos objetivos políticos territoriais, serviria para ampliar o mercado consumidor. Aproveitando-se da rivalidade francesa com os austríacos, Cavour se aproxima de Luís Bonaparte, o Napoleão III, que estudamos em um de nossos textos.

Em 1858, ele assina um tratado de aliança com os franceses.

 Nas negociações, eles se comprometeram a unir forças contra os austríacos. Estavam tão decididos que assumiram o compromisso de não deporem as armas antes terem expulsado os austríacos de Lombardia-Venécia. Claro que o interesse de Napoleão não era apenas ajudar Piemonte e derrotar os austríacos, no próprio desenrolar das negociações suas ambições expansionistas ficam visíveis, como quando ele negocia com os piemonteses ficar com as regiões de Saboia e Nice. Mas como disse lá atrás, a Unificação não era uma tarefa fácil, ainda mais tendo que enfrentar os austríacos, que embora fossem um país com baixíssimos níveis de industrialização, ainda eram tidos como o mais poderoso estado da confederação germânica. Vocês devem lembrar como a Prússia se empenhou para superar essa condição. E aqui, vale uma pequena reflexão histórica. Caramba, mas a Áustria foi uma pedra no sapato das duas unificações. Parou para pensar nisso. Nessa equação, quase um jogo de xadrez, a Rússia, do Czar Alexandre II, declara apoio a Napoleão III em seus preparativos para guerra contra a Áustria.

 Depois dos preparativos, o conflito se inicia em 1859, e parece que os austríacos já não gozavam do poderio militar que alimentava o imaginário de seus inimigos. A coligação franco-piemontesa não encontrou grandes dificuldades para derrotar, e assumir o controle da Lombardia. Ao final, pelo tratado de Zurique, ficou decidido que a região passaria para a soberania de Piemonte-Sardenha.

No entanto, a coligação vencedora não duraria muito tempo, pois o avanço em direção ao Sul, que seria inevitável para a unificação, esbarrava na invasão e anexação de um território que correspondia a um terço de toda a península. Mas não era esse o problema, o problema era que o soberano dessa região da Itália central gozava de Grande respeito por parte, tanto de Napoleão quanto da maioria dos franceses. E ai, já sabe que região é essa? Ainda não. Vou dar mais uma pista. Podemos chamar de Províncias pontifícias. Descobriu quem era esse soberano respeitado pelos franceses? Isso mesmo. O papa.

 A Dominação Sobre os territórios do Papa geraram uma situação de impasse, pois além de os franceses não colaborarem com a invasão, ainda acabam disponibilizando uma guarnição para garantir a segurança do Papa. Enquanto isso, as guerras de anexação, os plebiscitos conciliatórios, as ações dos camisas vermelhas de Garibaldi avançavam rumo a unificação, restando Roma e Venécia. Em 1866, a Europa era palco da guerra das sete semanas.Nessa guerra, também conhecida como guerra austro-prussiana, Victório Emmanuelle, aliou-se aos prussianos contra os austríacos. A Áustria foi derrotada e, em consequência, a Venécia foi anexada ao reino italiano. Quatro anos depois, outra guerra estudada em um texto passado acontecia na Europa, a Guerra Franco-prussiana, que resultou na unificação alemã e na derrota do império francês de Napoleão III. Com a derrota dos franceses, O papa perdeu sua proteção e Roma foi invadida e anexada ao reino da Itália a VERDI. Sigla para Victorio Emmanuele, rei da Itália.

 O Papa Pio IX não reconheceu a soberania italiana e acabou se declarando um refém em seu próprio território. Iniciava-se ali a chamada questão romana. Você pode estar se perguntando, mas isso tem alguma importância prática? Quem manda é o rei, o mimimi do papa não muda nada. Temos que entender que essa é uma questão diplomática, e que envolve religião e populações católicas em todo o mundo. A oposição do papa cria problemas e mal estar para a Itália em suas relações internacionais.  A situação só seria resolvida em 1929, com assinatura do tratado de São João Latrão, durante o pontificado de PIO XI, embora é importante destacar que os representantes signatários do tratado foram Benito Mussolini e o Cardeal Pietro Gasparri. Pelo tratado, a Igreja abria mão das terras que possuía desde a idade média e reconhecia o Estado Italiano. Em contra partida, será indenizada pelas perdas territoriais, teria soberania sobre um enclave territorial dentro de Roma, O Estado do Vaticano e a religião oficial italiana seria o catolicismo.

Antes que você faça conclusões precipitadas, deixa eu te esclarecer uma coisa. Os termos desse tratado foram reformulados em 1979, e hoje, a Itália é um Estado laico, ou seja, o catolicismo já não é a religião oficial do Estado italiano.

Antes de terminar, eu gostaria de chamar atenção de vocês para um ponto. Embora tenham ocorrido alguns plebiscitos em algumas situações, o processo de unificação italiana foi marcado pelas guerras de anexação. Nesse ponto, não havia consenso em torno do projeto piemontês. Mesmo considerando o nacionalismo irredetista, que tinha como principal marca o sentimento austríaco, ao contrário da unificação alemã, não havia uma forte identidade étnica que garantisse a coesão e a nacionalidade. É essa condição que explica essa famosa frase proferida após a consolidação do processo de unificação da Península. "Fizemos a Itália, agora temos que fazer os italianos". Em outras palavras, fizemos o Estado, agora falta fazer a nação. Profundo isso, né?

 Ficamos por aqui, Nos encontramos no próximo texto.

 Professor Arão Alves - História em Gotas Academy


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