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Absolutismo e Renascimento - questões discursivas com gabarito comentado


Dica: grupo de estudo para específicas da Uerj: https://www.facebook.com/groups/660763183949872/

1. (Ufg 2013)  Leia o texto a seguir.

A ilha de Utopia tem cinquenta e quatro cidades grandes e magníficas, onde todos falam a mesma língua, têm os mesmos hábitos e vivem sob as mesmas leis e instituições. O governador conserva o cargo por toda a vida, a menos que se suspeite que o titular deseja instituir uma tirania. Uma lei proíbe que as questões de interesse público sejam discutidas durante menos de três dias, sendo crime de morte deliberar sobre assuntos de Estado fora do Senado ou da Assembleia Popular. Aparentemente, isso é feito para impedir que o governador e os representantes das famílias conspirem para ignorar os desejos da população e alterar a Constituição.

MORE, Thomas. Utopia. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2009. p. 82 e seq. (Adaptado).


Este texto integra a obra de Thomas Morus, publicada em 1516, na Inglaterra governada por Henrique VIII. Ao narrar a vida cotidiana em um país fictício, chamado Utopia, o autor descreve instituições políticas que projetam um governo voltado à vida comunitária ideal. Com base no texto apresentado, explique como essa vida comunitária ideal
a) revela os princípios que sustentam o processo de formação do Estado nacional moderno;
b) expressa um elemento de crítica ao governo absolutista.


Resposta:

a) O estado nacional moderno foi fundado sobre as bases do Absolutismo, regime de concentração total de poder nas mãos dos monarcas que, na maioria das vezes, não se importa com a configuração de uma “vida comunitária ideal”.

b) Ao descrever o cotidiano de “utopia”, Thomas Morus buscava criticar o regime absolutista, uma vez que o mesmo não se importava em buscar a “vida comunitária ideal”, mas sim, era fundado nos interesses políticos e econômicos de reis, nobreza e burguesia.



  
2. (Ufg 2013)  Leia a citação a seguir.

Mago designa um homem que alia o saber ao poder de agir para a criação de mundos desejáveis.

BRUNO, Giordano. Tratado da magia, 1591. Apud JOB, Nelson. Ontologias em devir: confluências entre magia e ciência. Disponível em: . Acesso em: 14 nov. 2012.

Tal como demonstra a citação de Giordano Bruno, sentenciado pela Inquisição à morte na fogueira, a magia despertava o interesse de pensadores e cientistas que estudavam as formas de intervir nas forças da natureza, no período entre os séculos XV e XVI. Com base no exposto,
a) explique como a citação de Giordano Bruno contraria os princípios que sustentaram a ação da Inquisição;
b) relacione a citação de Giordano Bruno aos valores renascentistas sobre o conhecimento humano.  


Resposta:

a) Os princípios que sustentaram a ação da Inquisição eram baseados no combate a toda e qualquer forma de oposição aos dogmas da Igreja Católica. Esses princípios eram efetivados por meio de práticas como: vigilância e controle do comportamento moral dos fiéis e severa censura às produções culturais e às inovações científicas. A citação de Giordano Bruno contraria esses princípios por exaltar o “saber” e o “poder de agir” do homem, avaliado, então, como ator capaz de dominar a natureza para criar “mundos desejáveis”. A citação se refere ao trabalho desenvolvido pelo mago. No período citado, seus conhecimentos provinham de fontes não aprovadas pela Igreja, que resultavam em práticas consideradas ocultas por ameaçarem os dogmas religiosos. Em virtude dessa compreensão por parte da Igreja, a Inquisição reservaria aos hereges (dentre eles, os magos) denúncias, investigações, julgamentos e condenações, com penas como prisão perpétua e morte na fogueira (o caso de Giordano Bruno).

b) A citação está associada aos valores renascentistas porque se refere a um tipo distinto de poder e de saber, que ultrapassa os limites impostos pelos dogmas da Igreja Católica, na medida em que essa instituição tem a revelação divina como fonte única do saber. Três pontos associam a citação a esses valores: 1) a eleição do homem como agente; 2) a referência a uma ação racionalmente elaborada para transformar a realidade, o que remete à criação de novos mundos; 3) o registro de que os mundos a serem criados dependeriam da vontade humana. Assim, os pontos mencionados explicitam os seguintes valores do Renascimento: o humanismo e o antropocentrismo (valorização do homem e de seu poder de ação, o que resultava em colocar o homem no centro da ação e conferir-lhe vontade e desejo para a intervenção na natureza); o racionalismo (a valorização da razão humana).  



  
3. (Fgv 2012)  “Essencialmente, o absolutismo era apenas isto: um aparelho de dominação feudal alargado e reforçado, destinado a fixar as massas camponesas na sua posição social tradicional (...). Por outras palavras, o Estado absolutista nunca foi um árbitro entre a aristocracia e a burguesia, ainda menos um instrumento da burguesia nascente contra a aristocracia: ele era a nova carapaça política de uma nobreza atemorizada (...).”

ANDERSON, Perry, Linhagens do Estado Absolutista. Trad. Porto: Afrontamento, 1984, pp. 16-17.

a) Na perspectiva de Anderson, o Estado absolutista significou um rompimento drástico com relação à fragmentação política característica do período feudal? Justifique.
b) Na visão de Anderson, qual era o grupo social dominante nos quadros do Estado absolutista? Justifique.
c) Além dos elementos apontados no texto, ofereça mais duas características constitutivas dos chamados Estados absolutistas.


Resposta:

     Segundo o autor, que representa um dos expoentes da visão marxista de História, o Estado Absolutista não representa uma mudança drástica, pois preserva os tradicionais privilégios da velha elite feudal. Tal modelo, desenvolvido na Idade Moderna, apesar de possuir uma estrutura centralizada de poder, representou uma adaptação.
     Para o autor, a classe dominante é a nobreza, responsável pelo controle dos principais cargos políticos. Ministros, conselheiros e assessores do Rei pertenciam à nobreza, colocando essa classe social no controle do Estado.
     Os Estados Absolutistas garantiam privilégios ao clero e eram caracterizados por grande intolerância religiosa, principalmente nos países católicos, nos quais o poder do rei era justificado como sendo de origem divina. No campo econômico, os Estados exerciam forte intervenção e controle, preocupados em obter balança comercial favorável, segundo uma mentalidade mercantilista.
      
      
      
  
4. (Ufg 2012)  Leia os documentos apresentados a seguir.

Se rende-se culto ao Deus verdadeiro, servindo com sacrifícios sinceros e bons costumes, é útil que os bons reinem por muito tempo e onde quer que seja.

SANTO AGOSTINHO. A cidade de Deus: contra os pagãos. 3a. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1991. s. p.

O príncipe deve aparentar ser todo piedade, fé, integridade, humanidade, religião. Contudo não necessita possuir todas estas qualidades, sendo suficiente que aparente possuí-las. Até mesmo afirmo que se possuí-las e usá-las, elas lhes seriam prejudiciais.

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Disponível em: . Acesso em: 4 abr. 2012.

Ambos os documentos tratam da postura do governante na administração de uma cidade ou de um reino. O primeiro foi escrito por Santo Agostinho, no século V, e o segundo, por Nicolau Maquiavel, no século XVI. Com base nos documentos apresentados, explique a relação existente entre religião e política
a) no pensamento medieval;
b) no pensamento moderno.


Resposta:

a) O pensamento medieval alicerça-se no princípio cristão. Nesse sentido, no primeiro documento, o governante deve guiar-se por tal princípio. Não há, para Santo Agostinho, a separação entre os princípios morais, religiosos e políticos. Ao responder às críticas que vinculavam a queda do Império Romano ao abandono dos cultos pagãos e à associação entre os governantes e o cristianismo, Santo Agostinho pretende demonstrar que somente um governante fiel ao Deus verdadeiro consegue manter-se no poder. Ao fazer isso, o filósofo submete a política à religião.
b) O pensamento moderno alicerça-se nos princípios da razão, da separação das esferas pública e privada e da autonomia. Nesse sentido, alguns desses elementos encontram-se no segundo documento. Para Maquiavel, o governante deve apenas aparentar ser religioso para alcançar a admiração de seus súditos, não se orientando pelo princípio cristão. Para manter-se no poder, o governante precisará fazer o mal, usando da razão para decidir quando essa ação será necessária. Escrevendo em um contexto no qual o processo de orientação da vida humana ganha gradualmente autonomia em relação à orientação moral da Igreja Católica, Maquiavel separa religião (moral religiosa) e política (ética política).



  
5. (Uerj 2012)  Leia.

Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou temido que amado. Responde-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das duas. Deve, todavia, o príncipe fazer-se temer de modo que, se não adquire amizade, evite ser odiado, porque pode muito bem ser ao mesmo tempo temido e não odiado; o que sempre conseguirá desde que respeite os bens dos seus concidadãos e dos seus súditos porque os homens esquecem mais depressa a morte do pai que a perda do patrimônio.
Mas quando um príncipe está com os exércitos e tem uma multidão de soldados sob o seu comando, então é de todo necessário que não se importe de passar por cruel; porque sem esta fama não se mantém um exército unido, nem disposto a qualquer feito.

O Príncipe, de Nicolau Maquiavel
Adaptado de www.arqnet.pt

Nicolau Maquiavel foi um pensador florentino que viveu na época do Renascimento. Ele é considerado um dos fundadores do pensamento político moderno e suas ideias serviram de base para a constituição do Absolutismo monárquico.
Identifique no texto duas práticas do Absolutismo monárquico.


Resposta:

A concentração de poderes está na essência da ideia do absolutismo, na medida em que o governo não faz apenas as leis, mas controla seu cumprimento. Destaca-se ainda a necessidade da força para a manutenção do poder e da ordem constituída, entendida como fundamental para a preservação da nação, impedindo que interesses particulares se sobreponham aos interesses sociais.



  
6. (Unesp 2012)  [...] tudo que os renascentistas pretendiam era assumir a condição humana até seus limites, até as últimas consequências. Nem Deus e nem o demônio; todo o desafio consistia em ser absolutamente, radicalmente humano, apenas humano.

(Nicolau Sevcenko. O Renascimento, 1985.)

Explique a caracterização que o texto faz do Renascimento e dê exemplo de uma obra artística em que tal intenção se manifeste.


Resposta:

O Renascimento caracterizou-se por ser anticlerical, opondo-se à cultura religiosa e teocêntrica da Idade Média. Valoriza o homem a partir do antropocentrismo e do humanismo (glorificação do natural e do humano).
Como exemplo as esculturas Davi e Pietá de Michelangelo.



  
7. (Ufg 2011)  Leia o texto a seguir.

Enquanto andava à procura de ossos pelas estradas rurais, onde eventualmente os indivíduos executados são deixados, deparei-me com um cadáver ressecado. Os ossos estavam totalmente expostos, mantendo-se unidos apenas pelos ligamentos, e tinham sido preservadas somente a origem e a inserção dos músculos. Escalei o poste e destaquei o fêmur do osso ilíaco. Quando puxei a peça com força, a omoplata, os braços e as mãos também se destacaram, embora faltassem os dedos de uma das mãos, as duas rótulas e um dos pés. Depois de trazer secretamente para casa as pernas e os braços e após sucessivas idas e vindas (tinha deixado para trás a cabeça e o tronco), permaneci durante quase toda noite fora dos limites da cidade a fim de conseguir pegar o tórax, que se encontrava firmemente preso a uma corrente.

VESALIUS, Andreas. De humani corporis fabrica, 1543. Disponível em: www.cienciahoje.uol.com.br/noticias/historia-da-ciencia-e-epistemologia/relancado-tratado-que-inaugurou-anatomia-moderna/. Acesso em: 11 out.. 2010. [Adaptado]

Datada de 1543, a narração do médico Andreas Vesalius, considerado o precursor dos estudos de anatomia moderna, indica a formação de um novo modelo de conhecimento, no período. Com base na leitura do texto e considerando o contexto histórico,

a) explique o processo pelo qual a concepção de mundo dos homens se transformou na época do Renascimento;
b) analise a concepção de ciência que se formava, apresentando o conflito social que essa nova concepção gerou.


Resposta:

a) No processo de formação do mundo moderno (XII-XVII), o Renascimento introduziu algumas importantes transformações, que incidiram sobre a concepção de mundo dos homens daquela época. Colocou no centro de suas preocupações o homem, o que ficaria conhecido como antropocentrismo. O humanismo, o estudo da natureza e o desenvolvimento do espírito crítico, em conjunto, colaboraram para a ampliação dos horizontes em vários campos do conhecimento, que, difundidos, transformaram a concepção do homem sobre o mundo.
b) Desenvolvia-se a importância de observação direta nos estudos científicos, procedimento que afirmaria a empiria como forma de construção do conhecimento científico. Com o Renascimento e a difusão de seus princípios, as dúvidas sobre o corpo humano tornaram legítima, por parte dos médicos, a investigação empírica, daí a prática de dissecação de cadáveres. Ainda assim, a narrativa do médico, ao revelar que as suas atividades eram feitas em segredo, indica implicitamente que, apesar das mudanças produzidas pelo Renascimento, tais “novidades” provocavam conflito, posto que não eram consensuais. Na verdade, nesse mesmo período, a Igreja Católica condenava práticas como a da dissecação de cadáveres, pois o corpo humano era considerado sagrado e não poderia ser violado.



  
8. (Fuvest 2011)  Observe a imagem e leia o texto a seguir.




            Michelangelo começou cedo na arte de dissecar cadáveres. Tinha apenas 13 anos quando participou das primeiras sessões. A ligação do artista com a medicina foi reflexo da efervescência cultural e científica do Renascimento. A prática da dissecação, que se encontrava dormente havia 1.400 anos, foi retomada e exerceu influência decisiva sobre a arte que então se produzia.

Clayton Levy, “Pesquisadores dissecam lição de anatomia de Michelangelo”. Jornal da Unicamp, nº 256, junho de 2004, http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/junho2004/ju256pag1.html. Acessado em 11/06/2010.

a) Explique a relação, mencionada no texto, entre artes plásticas e dissecação de cadáveres, no contexto do Renascimento.
b) Identifique, na imagem acima, duas características da arte renascentista.


Resposta:

a) Influenciado pelas concepções gregas de humanismo e naturalismo, os renascentistas procuravam reproduzir e valorizar o homem. A dissecação de cadáveres – como mencionada no texto – permitiu maior conhecimento do corpo humano, favorecendo a riqueza de detalhes e fortalecendo o realismo.

b) A valorização do ser humano (antropocentrismo) e a adoção da perspectiva na pintura, associada a novidades como a noção de profundidade e a projeção de luz e sombra.



  
9. (Ufba 2011)  O Renascimento, como expressão de concepções inovadoras de artistas, escritores e cientistas, marcou o campo cultural e o científico da civilização europeia ocidental.
Partindo dos conhecimentos sobre o movimento renascentista, indique uma concepção, relativa a cada grupo indicado, responsável por modificações na mentalidade da época.

Concepção inovadora de
• artistas:

• escritores:

• cientistas:


Resposta:

Concepções inovadoras de artistas:
• técnicas de perspectiva, de tridimensionalidade, introduzindo a impressão de realismo;
• inclusão de paisagens da natureza;
• influência do humanismo na reprodução de formas humanas;
• temas religiosos revestidos de percepção humanista.

Concepções inovadoras de escritores:
• humanismo, destacando-se as emoções humanas;
• textos em línguas nacionais, abordando temas profanos e das culturas locais;
• revisão crítica de textos clássicos;
• inclusão de temas políticos.

Concepções inovadoras de cientistas:
• valorização da observação e da experiência;
• influência do humanismo, libertando o estudo do universo e da Terra;
• abordagens de estudos no campo da física e no da medicina.

Renascimento é o nome que se dá a um grande movimento de mudanças culturais, que atingiu as camadas urbanas da Europa Ocidental entre os séculos XIV e XVI, caracterizado pela retomada dos valores da cultura greco-romana, ou seja, da cultura clássica. Esse momento é considerado como um importante período de transição envolvendo as estruturas feudo capitalistas.



  
10. (Unicamp 2010)  A partir do século IX, aumentou a circulação da ciência e da filosofia vindas de Bagdá, o centro da cultura islâmica, em direção ao reino muçulmano instalado no Sul da Espanha. No século XII, apesar das divisões políticas e das guerras entre cristãos e mouros que marcavam a península ibérica, essa corrente de conhecimento virou um rio caudaloso, criando uma base que, mais tarde, constituiria as fundações do Renascimento no mundo cristão. Foi dessa maneira que o Ocidente adquiriu o conhecimento dos antigos. No quadro pintado pelo italiano Rafael, A escola de Atenas (1509), o pintor daria a Averróis, sábio muçulmano da Andaluzia, um lugar de honra, logo atrás do grego Aristóteles, cuja obra Averróis havia comentado e divulgado.

(Adaptado de David Levering Lewis, God’s Crucible: Islam and the Making of Europe, 570-1215. New York: W. W. Norton, 2008, p. 368-69, 376-77.)

a) Identifique no texto dois aspectos da relação entre cristãos e muçulmanos na Europa medieval.
b) Relacione as características do Renascimento cultural europeu à redescoberta dos valores da Antiguidade clássica.


Resposta:

a) De acordo com o texto, pode-se considerar como aspectos da relação entre cristãos e muçulmanos na Idade Média, a transmissão conhecimentos da antiguidade clássica dos muçulmanos ao ocidente cristão e presença islâmica na península ibérica deu origem à guerra da Reconquista.


b) O Renascimento é assim chamado em virtude da redescoberta e revalorização das referências culturais da antiguidade clássica durante a passagem da Idade Média para a Idade Moderna, destacando-se o racionalismo, o antropocentrismo, o individualismo e o naturalismo. 



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