1.
(Uff 2012) Ao visitarem a Índia em
1912, o casal de sociólogos ingleses, Beatriz e Sidney Webb, afirmaram:
“Igualmente claro é que o indiano às vezes é
um trabalhador excepcionalmente relutante para suar. Ele não se importa
muito com o que ganha. Prefere quase definhar de fome do que trabalhar demais.
Por mais baixo que seja seu nível de vida, seu nível de trabalho é ainda menor
– pelo menos quando está trabalhando para um patrão que não lhe agrada.
E suas irregularidades são impressionantes!”
(Beatriz e
Sidney Webb, 1912. Apud: Said, Edward. Cultura & Imperialismo. São
Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 259).
A leitura do texto acima sugere uma situação
de tensão no domínio colonial inglês na Índia.
a) Indique duas razões para a
luta pela independência da Índia em 1947;
b) Analise a utilização do
trabalho como forma de resistência no processo de independência indiano.
2.
(Ufrj) “Ouvimos com frequência que
o ‘colonialismo está morto’. Não nos deixemos enganar ou mesmo ser
tranquilizados por isso. Eu lhes digo, o colonialismo ainda não está morto.
Como podemos dizer que está morto enquanto grandes áreas da Ásia e da África
não forem livres?
E lhes peço que não pensem em colonialismo apenas
na forma clássica que nós da Indonésia e nossos irmãos em diferentes partes da
Ásia ou da África conhecemos. O colonialismo tem também uma roupagem moderna,
sob a forma de controle econômico, controle intelectual, controle físico real
por uma comunidade pequena, porém estrangeira, dentro de uma nação. É um inimigo
hábil e determinado, que aparece sob diversas formas. Não desiste facilmente de
sua presa.
[...] Não há muito tempo, afirmamos que a paz era
necessária para nós porque a eclosão de uma luta em nossa parte do mundo
colocaria em perigo a nossa preciosa independência, há tão pouco tempo obtida a
tão alto preço.”
(SUKARNO,
Ahmed. Discurso de abertura da Conferência Afro-Asiática de Bandung, 1955)
A Conferência de Bandung realizou-se em abril de
1955, na Indonésia, com a presença de representantes de 29 países da África e
da Ásia, entre eles líderes que haviam participado da luta pela independência
de seus países, como o orador (primeiro presidente da Indonésia independente),
Nehru (da Índia) e Nasser (do Egito).
Cite dois princípios
adotados por essa Conferência em sua declaração final.
3.
(Ufrj) O premiado documentário
brasileiro “Condor”, de 2007, dirigido por Roberto Mader, resgatou diferentes
versões do que ficou conhecido como “Operação Condor”, ou seja, um conjunto de
ações político-militares coordenadas, nos anos 70 do século passado, por
diversos governos da América Latina, como Chile, Brasil, Argentina, Uruguai,
Paraguai e Bolívia.
a) Apresente um argumento
dos governos envolvidos na Operação para levá-la adiante.
b) Em meados
da mesma década de 1970, algumas longas ditaduras europeias chegaram ao fim,
uma das quais em Portugal.
Identifique
uma característica da Revolução dos Cravos (1974).
4. (Unicamp) À meia-noite de 15 de agosto de 1947, quando Nehru anunciava ao mundo
uma Índia independente, trens carregados de hindus e muçulmanos, que associavam
a religião às causas de uma ou outra comunidade, cruzavam a fronteira entre a
Índia e o novo Paquistão, em uma das mais cruéis guerras civis do século XX.
Gandhi, profundamente comovido, começava um novo jejum, tentando a conciliação.
Mais tarde, já alcançada a Independência, foram as diferenças entre hindus e
muçulmanos que levaram Nehru, primeiro-ministro da Índia, a separar religião e
Estado, para que as minorias religiosas, como os muçulmanos, não fossem
vitimadas pela maioria hindu.
(Adaptado de Cielo G. Festino,
"Uma praja ainda imaginada: a representação da Nação em três romances
indianos de língua inglesa". São Paulo: Nankin/Edusp, 2007, p.23.)
a)
De acordo com o texto, que razões levaram Nehru a separar religião e Estado,
após a Independência da Índia?
b)
Quais os métodos empregados por Gandhi na luta contra o domínio inglês na
Índia?
5. (Unifesp) A Guerra do Vietnã opôs o norte ao sul do país e contou, entre 1961 e
1973, com participação direta dos Estados Unidos. Relacione esta guerra com a:
a)
Descolonização da Ásia.
b)
Guerra Fria.
6. (Uerj) Tanto mar
Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor no teu jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim
CHICO BUARQUE DE HOLLANDA.
"Tantas palavras". São Paulo: companhia das letras, 2006.
A
canção de Chico Buarque de Hollanda refere-se à Revolução dos Cravos, ocorrida
em Portugal em 1974.
Aponte
duas razões que levaram o exército português a liderar o processo
revolucionário e explicite a principal consequência da Revolução dos Cravos
para a política portuguesa na África.
7. (Ufrj) "Um empreendimento de colonização nunca é filantrópico, a não ser
em palavras. Um dos objetivos de toda colonização, sob qualquer céu e em
qualquer época, sempre foi começar por decifrar o território conquistado,
porque não se semeia a contento nem em terreno já plantado, nem em alqueive. É
preciso primeiro arrancar do espírito, como se fossem ervas daninhas, valores,
costumes e culturas locais, para poder semear em seu lugar os valores, costumes
e cultura do colonizador, considerados superiores e os únicos válidos. E que
melhor maneira de alcançar este propósito do que a escola?"
(BÂ, Amadou Hampâté. "Amkoullel,
o menino fula". São Paulo: Palas Athena/Casa das Áfricas, 2003.)
No
trecho apresentado, um dos mais reconhecidos estudiosos dos povos da savana da
África Ocidental faz uma análise dos males da escolarização promovida pelos
colonizadores europeus no século XX. No entanto, a história da descolonização
africana e asiática também mostra uma outra face desse processo, em que o mesmo
instrumento de dominação, a escola, foi usado em benefício dos colonizados.
Justifique
a ideia de que a escola de modelo ocidental também contribuiu para criar
condições favoráveis à luta pela independência das colônias europeias na Ásia e
na África.
8. (Ufrj) "Quando a
independência chegou, em 1960, havia menos de 30 africanos formados em curso
superior em todo o território. A administração da colônia pouco fizera para que
um dia o Congo pudesse ser governado por seu próprio povo: dos cerca dos 5 mil
cargos do serviço público administrativo, apenas três eram ocupados por
africanos. O rei Balduíno da Bélgica chegou a Léopoldville para conceder
oficialmente a independência ao Congo. Na ocasião, de um modo um tanto
superior, disse o seguinte:
- Cabe agora aos senhores
cavalheiros nos mostrar que são dignos da nossa confiança.
O discurso irado com que Patrice
Lumumba respondeu de improviso ao rei chamou a atenção do mundo. Lumumba
acreditava que a independência política não era suficiente para libertar a
África de seu passado colonial; era preciso também que o continente deixasse de
ser colonizado economicamente pela Europa."
(Adaptado de HOCHSCHILD, Adam.
"O fantasma do rei Leopoldo: uma história de cobiça, terror e heroísmo na
África Colonial." São Paulo: Companhia das Letras, 1999.)
Relacione
os desdobramentos políticos ocorridos no imediato pós-independência do ex-Congo
Belga com o contexto internacional da década de 1960.
9. (Fuvest) Índia e China ocupam, no atual cenário mundial, um lugar tão importante
que já se fala, entre estudiosos de geopolítica, em denominar o século XXI como
o "século asiático".
Sobre
as trajetórias históricas contemporâneas desses dois países, iniciadas,
respectivamente, em 1947 e 1949, é possível estabelecer mais de um paralelo,
ressaltando semelhanças e contrastes.
Indique
o processo histórico
a)
da Índia, a partir de 1947, e seus desdobramentos posteriores.
b)
da China, a partir de 1949, e seus desdobramentos posteriores.
10. (Puc-rio) "Nem o imperialismo nem o
colonialismo são um simples ato de acumulação e aquisição. Ambos são
sustentados e talvez impelidos por potentes formações ideológicas que incluem a
noção de que certos territórios e povos precisam e imploram pela
dominação."
Edward Said. "Cultura e
Imperialismo", p. 40.
Considerando
o texto acima:
a)
Relacione as ideias de civilização e progresso que caracterizaram o desenvolvimento
do capitalismo europeu do século XIX.
b)
Cite dois países africanos que, ao longo do século XX, conseguiram sua
independência frente às metrópoles europeias.
Gabarito:
Resposta da
questão 1:
a) O estudante poderá citar:
- O movimento nacionalista iniciado pelos intelectuais hindus;
- Os interesses das elites locais em relação ao domínio inglês no
território indiano;
- O enfraquecimento da Inglaterra como potência
colonial após a Segunda Guerra Mundial, pois a conjuntura internacional
tornou-se desfavorável à manutenção do domínio colonial pelas potências
europeias;
- O movimento de desobediência civil que inclui o
boicote aos produtos britânicos e a recusa ao pagamento de impostos;
- O papel de Gandhi na construção da própria
ideia de Independência.
b) O texto
permite perceber que o descaso do indiano com o trabalho, principalmente
daquele que “está trabalhando para um patrão que não lhe agrada”, numa
referências aos empreendimentos ingleses na Índia, nesse sentido, a resistência
ao trabalho tornar-se-ia uma resistência à dominação dos ingleses, enquanto uma
estratégia de desobediência não violenta.
Resposta da questão 2:
Na Conferência de Bandung, realizada entre 18
e 24 de Abril
de 1955
na Indonésia,
o objetivo principal era a promoção da cooperação econômica e cultural
afro-asiática, como forma de oposição
ao que era considerado colonialismo ou neocolonialismo. Foi a primeira
conferência a falar e a afirmar que o imperialismo e o racismo
são crimes.
Nela foram lançados os princípios políticos do "não alinhamento" com
as então superpotências (Estados Unidos e União
Soviética), sendo empregada a expressão Terceiro Mundo para designar o grupo
dos países não alinhados. Estabeleceu-se ainda, o respeito à soberania
e integridade territorial de todas as nações; o reconhecimento da igualdade de
todas as raças e nações, grandes e pequenas; a abstenção de todo ato ou ameaça
de agressão, ou do emprego da força, contra a integridade territorial ou a
independência política de outro país e a solução de todos os conflitos
internacionais por meios pacíficos
(negociações e conciliações, arbitragens por tribunais internacionais), de
acordo com a Carta da ONU
Resposta da questão 3:
a) A Operação Condor foi uma aliança
político-militar entre os vários regimes
militares da América do
Sul (Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai), criada com o objetivo de coordenar a
repressão aos opositores dessas ditaduras instalados nos seis países do Cone Sul.
A operação, liderada por militares da América
Latina, foi batizada com o nome do condor,
abutre típico dos Andes.
Montada no
início dos anos 1970, a Operação Condor durou até o
processo de redemocratização, na década
seguinte. A ação foi
conjunta e o governo norte-americano dela tinha conhecimento, conforme
demonstram documentos secretos divulgados pelo Departamento de Estado em 2001. No entanto, nesses
documentos, não há evidências que comprovem a participação ativa dos Estados
Unidos.
b) A
Revolução dos Cravos, ocorrida em Portugal em 1974, foi o movimento que
derrubou o regime salazarista, ditadura estabelecida no país desde 1932 e cujo
último representante era primeiro ministro Marcelo Caetano, restabelecendo as
liberdades democráticas e promovendo transformações sociais no país.
A
revolução iniciou-se no dia 25 de abril de 1974, com a execução à meia-noite
através de uma emissora de rádio, da música Grândula Vila Morena, de Zeca
Afonso proibida pela censura, adotada como senha para o início do movimento. Os
militares fizeram com que Marcelo Caetano fosse deposto, o que resultou na sua
fuga para o Brasil. A presidência de Portugal foi assumida pelo general António
de Spínola.
A
população saiu às ruas para comemorar o fim da ditadura e distribuiu cravos, a
flor nacional, aos soldados rebeldes em forma de agradecimento.
Uma das
primeiras realizações do novo governo português foi reconhecer a independência
de suas colônias na África, processo que se iniciara em 1973 com a declaração
unilateral da República da Guiné Bissau,
que foi reconhecida pela comunidade internacional, mas não pela potência
colonizadora.
Resposta da questão 4:
a) Segundo o texto, ao promover a separação entre religião e Estado,
Nehru procurou conter o poder do hinduísmo majoritário sobre as minorias
religiosas, de forma a impedir que estas últimas, particularmente os
muçulmanos, sofressem perseguições.
b) Não-violência, resistência passiva, desobediência civil e boicote aos
produtos britânicos.
Resposta da questão 5:
a) Durante a Segunda Guerra Mundial, com a derrota da França na primeira
fase da Guerra, o Vietnã que era um domínio colonial francês foi ocupado pelo
Japão. Quando a guerra terminou, a França tentou restabelecer o controle, mas
não conseguiu. Os franceses foram derrotados pelo Viet Minh na Batalha de Dien
Bien Phu, em 1954 na primeira guerra da Indochina, mesmo com ajuda dos EUA. Na
Conferência de Genebra o Vietnã foi dividido em dois países separados,
conhecidos como Vietnã do Norte e Vietnã do Sul.
b) Durante a Guerra Fria, o norte tinha o apoio da China e da União
Soviética, enquanto o sul era "apoiado" pelos EUA. Em 1965, os
Estados Unidos enviaram tropas para impedir o governo do Vietnã do Sul de
entrar em colapso completo devido as
ações do Vietcong (exército comunista no
sul) apoiado pelo norte para derrubar o governo do corrupto Ngo Dinh Diem. Os
Estados Unidos pretendiam evitar a invasão do Norte e a unificação do Vietnã
sob o regime comunista.
Resposta da questão 6:
Duas das razões:
-
queda vertiginosa da economia portuguesa
-
desgaste das tropas portuguesas em prolongadas guerras coloniais
o
forte migração de jovens para a Europa e o Brasil para não participarem do
conflito
-
crescimento de reivindicações corporativas das Forças Armadas, que aos poucos
foram ganhando conotação política
Consequência: fim do antigo sistema colonial português com o
reconhecimento pelo governo de Portugal das independências das suas colônias
africanas: Angola, Moçambique, Guiné, Cabo-Verde e São Tomé e Príncipe.
Resposta da questão 7:
O candidato deverá
justificar a afirmação considerando diversos fatores, dentre os quais: o
domínio do idioma colonial, utilizado como base de comunicação entre grupos e
indivíduos, forjou uma identidade linguística em determinadas regiões; o
contato com a cultura ocidental permitiu a apropriação do discurso em defesa da
democracia e do autogoverno, o que fortaleceu a reivindicação da independência;
a continuidade dos estudos em estabelecimentos de ensino na Europa Ocidental
criou oportunidades para que surgissem articulações, contatos e movimentos
unindo lideranças das diferentes áreas colonizadas.
Resposta da questão 8:
O candidato deverá relacionar os desdobramentos políticos no imediato
pós-independência do ex-Congo Belga ao contexto internacional da época,
considerando o jogo de interesses da Guerra Fria e eventos de ordem interna,
tais como:
-
a guerra iniciada com a secessão da província de Katanga, seguida por outros
levantes e episódios separatistas;
-
as intervenções militares da ONU; os interesses econômicos da antiga metrópole;
-
a busca de suporte por parte do chefe de governo (Patrice Lumumba) junto a URSS
e países a ela alinhados;
- o apoio ocidental aos opositores de Lumumba e o golpe de Estado que
terminou por levar ao seu assassinato em janeiro de 1961.
Resposta da questão 9:
a) A Índia obteve sua independência em 1947, sob a liderança de Mahatma
Gandhi, juntamente com Jawaharlal Nehru, depois de quase dois séculos de
domínio inglês. Logo após a independência, devido às diferenças religiosas,
dividiu-se em União Indiana (hinduísmo), Paquistão (islamismo) e Ceilão
(budismo). A Índia (República da Índia) estruturou-se como um regime
democrático e liberal e, em razão de fatores como a sua grande extensão
territorial, ter a segunda maior população do planeta, deter tecnologia nuclear
para fins militares e ter alcançado, em tempos recentes, um expressivo
desenvolvimento econômico e tecnológico, o país vem se projetando como uma das
principais potências entre as nações consideradas emergentes, o que não
significa a superação dos enormes contrastes sociais.
b) Em 1949, a partir da Revolução Chinesa, liderada por Mao Tse-tung,
implantou-se o socialismo no país. Apesar do autoritarismo do regime maoísta,
verificou-se um expressivo processo de modernização em relação à situação
vigente até então. Após a morte do líder Mao, a China passou por profundas
reformas econômicas, com caraterísticas notadamente capitalistas, que
proporcionaram um processo de acelerado crescimento econômico. Tal processo,
conciliado ao fato de o país ter a maior população do planeta, possuir um vasto
território e deter arsenal nuclear, permitiu a elevação da China à condição de
potência do século XXI.
Resposta da questão 10:
a) Como diz o texto há uma relação estreita entre as formas materiais de
conquista e as formas culturais/ideológicas. Assim sendo, o aluno deverá ser
capaz de demonstrar a relação entre a conquista militar das colônias na África
e Ásia e o discurso de superioridade cultural que se manifesta na defesa da
tarefa civilizatória do homem europeu frente a outros povos. Civilização, como
um valor cultural que confirmava a superioridade europeia e o Progresso, como a
demonstração material dessa superioridade exibida através do controle de uma
técnica muito superior aos povos não europeus, seriam argumentos centrais para
o expansionismo europeu que se via etnocentricamente realizando uma tarefa
benéfica ao conquistar os territórios bárbaros, sem história e civilização que
constituíam a fronteira de expansão do capitalismo europeu no século XIX.
b) Na África podemos citar Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia, Egito,
Somália, África do Sul, Mali, etc. Na verdade, os dois únicos países
independentes antes de 1901 eram a Libéria e a Etiópia.
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