Edem Kodjo e David Chanaiwa
Se, por sua vez, o pan‑africanismo,
como movimento de integração, obteve algum sucesso ao final dos anos 1950 e no
início dos anos 1960, se conheceu êxitos mais variáveis e sofreu derrotas a
partir de meados dos anos 1960, e se, finalmente, demonstra um forte impulso
desde meados dos anos 1970, o pan‑africanismo como movimento de
libertação, quanto a ele, alcançou o seu apogeu nos primeiros dez anos
posteriores à conquista da independência pela África. Porém não sobreviveu a este
período e exauriu‑se ao final dos anos 1960. Após a conquista da
independência, o princípio unificador do pan‑africanismo — a vontade
de lutar contra as potências coloniais — enfraqueceu‑se em
alguns Estados africanos, em que pese a persistência, na África Austral, de um
conflito cuja permanência poria em suspenso a completa libertação do
continente. O pan‑africanismo nasceu no Novo Mundo, nos séculos XVIII e XIX,
em favor da luta dos negros pela libertação, contra a dominação e a exploração dos
brancos. Estes movimentos traduzem‑se pelo separatismo religioso afro‑americano
(que se estenderá pouco após na África). No próprio continente africano, o pan‑africanismo,
como movimento de libertação remonta, como vimos no capítulo 23, à invasão da
Etiópia pelos fascistas italianos, em 1935, assim como e, sobretudo, ao quinto
Congresso Pan‑africano reunido em Manchester, em outubro de 1945. Neste
congresso, pela primeira vez, durante toda a história do movimento pan‑africano,
os representantes africanos eram os mais numerosos e os debates envolveram,
essencialmente, a libertação da África colonizada. O congresso de Manchester
foi organizado por um Secretariado Especial, presidido por Peter Milliard da
Guiana britânica (atual Guiana), e incluindo R. T. Makonnen, das Antilhas
(tesoureiro), Kwame Nkrumah, da Costa do Ouro (atual Gana) e George Padmore, de
Trinidad e Tobago (cossecretários), Peter Abrahams, da África do Sul
(secretário encarregado das relações públicas) e Jomo Kenyatta, do Quênia
(secretário adjunto). O congresso agregou mais de duzentos delegados vindos, em
sua maioria, das colônias britânicas na África, entre os quais figuravam os
futuros chefes de Estados independentes. Um veterano do pan‑africanismo,
W. E. B. Du Bois, presidiu todas as sessões do congresso. As deliberações e
principalmente as resoluções do congresso de Manchester estavam marcadas por um
tom mais pugnaz e radical, comparativamente aos congressos precedentes. As
declarações dirigidas às potências coloniais exigiam, especialmente:
1. A emancipação e a total
independência dos africanos e dos outros grupos raciais submetidos à dominação
das potências europeias, as quais pretendiam exercer, sobre eles, um poder
soberano ou um direito de tutela;
2. A revogação imediata de todas
as leis raciais e outras leis discriminatórias;
3. A liberdade de expressão, de
associação e de reunião, bem como a liberdade de imprensa;
4. A abolição do trabalho forçado
e a igualdade de salários para um trabalho equivalente;
5. O direito ao voto e à
elegibilidade para todo homem ou mulher com idade a partir de vinte um anos;
6. O acesso de todos os cidadãos
à assistência médica, à seguridade social e à educação.
A reivindicação em prol da
integração econômica foi examinada no capítulo 14. Os representantes exigiam igualmente que a África
se livrasse da “dominação política e econômica dos imperialismos estrangeiros”.
Evento da maior importância, pela primeira vez os africanos advertiam
formalmente as potências europeias, para muito bem atentarem ao fato que eles
também recorreriam à força para se libertarem, caso elas persistissem em querer
governar a África pela força. Simultaneamente, em uma declaração dirigida ao
povo africano, os representantes enfatizaram o fato da luta pela independência
política ser somente a primeira etapa e o meio para se atingir a completa
emancipação nas esferas econômica, cultural e psicológica. Eles exortaram a
população das cidades e dos campos africanos, os intelectuais e os
profissionais liberais a se unirem, organizarem‑se e
lutarem até a absoluta independência. Em suma, o quinto Congresso tornou o pan‑africanismo
uma ideologia de massas, elaborada pelos africanos e em seu próprio favor.
Inicialmente ideologia reformista e protestante em favor das populações de
origem africana, habitantes na América, o pan‑africanismo tornara‑se
uma ideologia nacionalista orientada para a libertação do continente africano.
O pan‑africanismo
mundial de DuBois, o combate de Garvey pela autodeterminação e autonomia, o
regresso à cultura africana preconizada por Césaire, pertenciam, doravante,
inteiramente ao nacionalismo africano. Diversos delegados, como Nkrumah ou
Kenyatta, saíram de Londres rumo à África, onde eles iriam conduzir o seu povo
à independência. Todos os movimentos nacionalistas inscreveram em seus
estatutos disposições inspiradas pelo pan‑africanismo.
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