Pular para o conteúdo principal

Filosofia, Questões discursivas com gabarito comentado

Conheça meu curso intensivo de História do Brasil

https://go.hotmart.com/P57899543C



Para não perder as novidades, inscreva-se no canal e acione o sininho:
https://www.youtube.com/channel/UC23whF6cXzlap-O76f1uyOw/videoshttps://www.youtube.com/channel/UC23whF6cXzlap-O76f1uyOw/videos

1. (Ufu 2018)  Considere o seguinte trecho, que comenta opiniões bastante difundidas sobre o pensamento filosófico de Parmênides e Heráclito, filósofos gregos que viveram no século VI a.C., e responda às questões a respeito.

“Parmênides e Heráclito representam correntes de pensamento rivais na filosofia grega e o conflito entre essas correntes marcou profundamente a obra de Platão, que procurará superá-lo, de certa forma, conciliando as duas posições.
O pensamento de Parmênides baseia-se em uma concepção de unidade do real para além do movimento por ele considerado apenas uma característica aparente das coisas. Parmênides é visto como o filósofo do Ser, da realidade única, subjacente à pluralidade dos fenômenos, e precursor da metafísica.
Heráclito parte do movimento como a questão mais básica em nosso entendimento do real, vendo no conflito entre os opostos a causa do movimento. Sua visão de realidade é profundamente dinâmica.”

MARCONDES, Danilo. Textos Básicos de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.


a) Explique a oposição entre as concepções desses filósofos a respeito da realidade do movimento.
b) Explique como Platão “de certa forma concilia as duas posições”.


Resposta:

a) A filosofia pré-socrática de Heráclito e de Parmênides marca uma oposição acerca do entendimento da realidade, o que influenciou os filósofos clássicos posteriores, notadamente Platão. O pensamento de Parmênides baseia-se na concepção da imutabilidade do Ser, reiterando a unidade e a totalidade do real. Há, nesse pensador, a concepção de uma unidade do Ser subjacente à diversidade das coisas expressada por meio das máximas “o ser é” e “o não ser não é”. Em oposição a Parmênides, Heráclito faz uso da metáfora do fogo para defender que a realidade é explicada pelo movimento incessante. Esse pensamento pode ser ilustrado pela máxima heraclitiana de que “nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio, porque as águas não são as mesmas e nós também não”. São termos que expressam o pensamento de Heráclito: a luta dos contrários, o fluxo contínuo e o conflito dos opostos, o que gera uma harmonia no cosmos.

b) Platão foi influenciado pelos filósofos Parmênides e Heráclito e tenta resolver o impasse entre o monismo de Parmênides e a teoria do movimento de Heráclito. Ele o faz por meio da sua teoria das ideias ou das formas. Platão apresenta uma divisão entre o mundo sensível e o mundo inteligível, que corresponde à separação entre o mundo do devir e do fluxo apresentado por Heráclito, e o mundo do ser e da imutabilidade apresentado por Parmênides. Platão concilia a teoria heraclitiana do movimento no mundo sensível e a teoria parmenidiana da imutabilidade no mundo inteligível. Desse modo, a Teoria das ideias de Platão concilia a cisão entre o verdadeiro e o aparente, entre o ser e o devir, entre o uno e o múltiplo.



  
2. (Ufpr 2018)  “Mas aqueles, varões, são mais hábeis – os que, se encarregando da educação da maioria de vocês desde meninos, tentavam convencê-los e me acusar de algo ainda mais não verdadeiro: de que há um certo Sócrates, homem sábio, pensador das coisas suspensas no ar, e que tem investigado tudo o que há sob a terra, e que torna superior o discurso inferior.
[...] Depois, esses acusadores são muitos e têm me acusado já faz muito tempo, falando junto a vocês, além do mais, naquela idade em que mais seriam convencidos (alguns de vocês eram meninos ou adolescentes), simplesmente acusando de forma isolada – sem que houvesse defesa. [...] E todos que, servindo-se da inveja e da calúnia, tentavam convencê-los, mais os que, uma vez convencidos eles mesmos, iam convencendo outros – todos esses são os mais inacessíveis, pois não é possível fazer subir aqui nem refutar a nenhum deles; simplesmente é imperioso bater-se como que com sombras ao se defender e refutar sem que haja resposta.
Aceitem então vocês também, segundo estou lhes dizendo, que se repartem em dois meus acusadores – de um lado os que me acusaram há pouco, e de outro os que há tempos (dos quais eu estava falando)”.

(PLATÃO. Apologia de Sócrates. Trad. André Malta. Porto Alegre: LP&M, 2016, p. 67-68.)


A partir da citação acima e de outros trechos da obra, responda: em quais categorias Sócrates divide seus acusadores? Que categoria de acusadores Sócrates considera a mais temível e que razões ele apresenta para embasar seu diagnóstico?


Resposta:

Na obra, Sócrates realiza sua defesa de modo comprometido com a verdade, evidenciando que tal comprometimento não era compartilhado pelos seus acusadores, que faziam uso da retórica para convencer os cidadãos acerca dos supostos crimes de Sócrates. As duas categorias em que Sócrates divide seus acusadores são a dos acusadores antigos, os quais fazem uso de artifícios do discurso para acusar Sócrates de perscrutar os fenômenos celestes, e a dos acusadores recentes, que o acusam de acreditar em deuses falsos e de corromper a juventude para compartilhar de suas crenças e do seu uso da razão que, para os acusadores, era fraco. Nesse sentido, Sócrates teme mais os primeiros acusadores, uma vez que estes não podem ser confrontados sobre os rumores e as insinuações que propagaram e que, ao se encarregarem da educação dos jovens, os convencem das falsas acusações.



  
3. (Ufpr 2018)  “Pois fiquem sabendo: se vocês me matarem por ser desse jeito que digo que sou, não prejudicarão a mim mais do que a vocês mesmos! É que em nada me prejudicaria Meleto, ou Anito; nem seria capaz, pois não penso que é lícito um varão melhor ser prejudicado por um inferior. Poderia sim talvez me condenar à morte, ou ao exílio, ou à atimia. Porém, se ele ou algum outro pensa talvez que essas coisas são grandes males, eu mesmo não penso – muito pior é fazer o que ele está fazendo, ao tencionar matar injustamente um homem. Portanto, varões atenienses, estou longe agora de falar em minha própria defesa, como se poderia pensar; falo sim em defesa de vocês, para que não errem – votando contra mim – em relação à dádiva do deus a vocês conferida. Porque se vocês me matarem não vão encontrar facilmente outro desse jeito, simplesmente ligado à cidade – por ordem do deus – [...] Mas vocês poderiam talvez, quem sabe, ficar aborrecidos – como os que são despertados de um cochilo – e, me dando um safanão e ouvidos a Anito, poderiam facilmente me matar e então continuar dormindo pelo resto da vida, a menos que o deus aflito por vocês, lhes enviasse um outro”.

(PLATÃO. Apologia de Sócrates. Trad. André Malta. Porto Alegre: LP&M, 2016, p. 90-91.)


A partir da citação acima e de outros trechos da obra, responda por que, segundo Sócrates, longe de atuar em defesa própria, ele atua na defesa dos atenienses?


Resposta:

Para Sócrates, a decisão por condená-lo seria mais prejudicial aos seus algozes do que a ele próprio, uma vez que a morte não poderia causar ao indivíduo mal maior do que a ação de um mal. Desse modo, segundo Sócrates, a morte não seria o maior dos males, pois o entendimento de que a morte seria um dano ao indivíduo consistiria em supor conhecer o que não se sabe, já que os indivíduos não poderiam conhecer a morte, o que seria um ato de ignorância. Assim, para ele, aceitar a morte seria preferível em face da renúncia à filosofia, haja vista que a última o fazia reconhecer os limites do seu saber e, como consequência, buscar o conhecimento, elevando, dessa forma, seu espírito. Com efeito, o male maior da sua condenação seria sofrido pelos que o julgaram culpado, pois o ato de injustiça seria o verdadeiro crime. Nessa perspectiva, ao argumentar contra as acusações que lhes são feitas, Sócrates estaria atuando em defesa dos atenienses, e não na sua própria, pois a injustiça seria verdadeiramente prejudicial àqueles que a cometeram.



  
4. (Uel 2018)  Leia o texto a seguir.

Aristóteles afirma que os indivíduos são compostos de matéria (hyle) e forma (eidos). A matéria é o princípio de individuação e a forma a maneira como a matéria se constitui em si. Assim, todos os indivíduos de uma mesma espécie teriam a mesma forma, mas difeririam do ponto de vista da matéria, já que se trata de indivíduos diferentes, ao menos numericamente.
(Adaptado de: MARCONDES, D. Iniciação à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 2.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. p.21.)


Com base na diferenciação entre matéria e forma apresentada no texto, indique o significado dos conceitos de essência e de acidente na teoria do conhecimento de Aristóteles.  


Resposta:

Aristóteles considera que toda substância individual é composta de matéria e forma, o que, de certo modo, faz com que o dualismo platônico seja contemplado no próprio ser (aquilo que é e que existe). A forma associa-se às condições essenciais da coisa (ser), tornando-a naquilo que ela é. É por intermédio da forma que o ser se constitui, sendo o que é. Por exemplo: diversos materiais (matéria) podem ser utilizados para fabricar mesas e cadeiras. Ambos os seres (cadeiras e mesas) são formados por materiais diversos. Então, o que as diferenciam do ponto de vista da essência? O que as tornam diferentes, em essência, é a forma que cada porção de matéria recebe. Desse modo, a mesa é mesa não em razão da matéria que a constitui, mas em razão da forma que a determina essencialmente. As diferenças assinaladas na matéria de cada ser são consideradas acidentes. Logo, os acidentes são as características mutáveis e variáveis que estão registradas na matéria e não na forma. Um risco, uma mancha ou uma trinca que se observa em uma cadeira, por exemplo, a torna singular (individual) em relação às demais, sem que isso lhe retire a sua essência (forma) de ser cadeira.



  
5. (Uel 2018)  Leia o texto a seguir.

Que terá levado o homem, a partir de determinado momento de sua história, a fazer ciência teórica e filosofia? Por que surge no Ocidente, mais precisamente na Grécia do século VI a.C, uma nova mentalidade, que passa a substituir as antigas construções mitológicas pela aventura intelectual, expressa através de investigações científicas e especulações filosóficas?
(PESSANHA, J. A. M. Do Mito à Filosofia. In. Os Pré-Socráticos. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1996. p.5. Coleção “Os Pensadores”.)


Com base no texto e nos conhecimentos a respeito da passagem do Mito ao Logos, indique as principais condições que marcaram o surgimento da Filosofia.


Resposta:

O Mito carrega consigo uma tentativa de explicação da realidade, contudo essa pretensão é paradoxal, já que as explicações mitológicas dadas ao real são buscadas no plano sobrenatural, em alguma forma mística e misteriosa, cujo acesso não é plenamente disponível e tampouco acessível à razão. A explicação da realidade, dada por intermédio do mito, reside em um fundamento inexplicável, o que gera, no mínimo, um certo grau de contradição. A filosofia aparece com o propósito de superar essa estrutura paradoxal do mito que, ao tentar explicar algo, acabava tomando a trilha do inexplicável e bloqueando a possibilidade do conhecimento. A filosofia, ao contrário, quer explicar a realidade a partir do próprio mundo e não fora dele. As condições que facilitaram o nascimento de um pensamento questionador na Grécia estão vinculadas ao grau de liberdade de pensamento, próprio das estruturas das cidades-Estado (polis) e, também, à forma que os gregos lidavam com a religião, de caráter antropomórfico. A valorização da razão (logos) foi condição indispensável para encontrar uma base explicativa mais compatível à realidade e, de certo modo, menos mística.






 

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Questões discusivas com gabarito comentado - Renascimento Cultural

Para não perder as novidades, inscreva-se no Canal HIstória em gotas:   https://www.youtube.com/channel/UC23whF6cXzlap-O76f1uyOw/videos?sub_confirmation=1 1 .    Um dos aspectos mais importantes da nova ordem decorrente do Renascimento foi a formação das repúblicas italianas. Dentre elas, se destacaram Florença e Veneza. Essas repúblicas inovaram no sentido das suas formas de governo, assim como na redefinição do lugar do homem no mundo, inspirando a partir daí novas formas de representá-lo. a) Tomando o caso de Florença, explique como funcionavam as repúblicas italianas, levando em conta a organização política e os vínculos entre os cidadãos e a cidade, e indique o nome do principal representante das ideias sobre a política florentina no século XVI. b) Analise o papel de Veneza no desenvolvimento do comércio europeu, e suas relações com o Oriente.     2 .    As imagens abaixo ilustram alguns procedimentos utilizados por um novo modo de conhecer e explicar a realid

Questões discussivas com gabarito sobre Primeira guerra e crise de 29

Para não perder as novidades, inscreva-se no Canal e clique no sino: https://www.youtube.com/channel/UC23whF6cXzlap-O76f1uyOw/videos?sub_confirmation=1 #partiuauladoarão 1 . (Unifesp 2011)  Numa quinta-feira, 24 de outubro de 1929, 12.894.650 ações mudaram de mãos, foram vendidas na Bolsa de Nova Iorque. Na terça-feira, 29 de outubro do mesmo ano, o dia mais devastador da história das bolsas de valores, 16.410.030 ações foram negociadas a preços que destruíam os sonhos de rápido enriquecimento de milhares dos seus proprietários. A crise da economia capitalista norte-americana estendeu-se no tempo e no espaço. As economias da Europa e da América Latina foram duramente atingidas. Franklin Delano Roosevelt, eleito presidente dos Estados Unidos em 1932, procurou combater a crise e os seus efeitos sociais por meio de um programa político conhecido como New Deal . a) Identifique dois motivos da rápida expansão da crise para fora da economia norte-americana.

Iluminismo - questões discursivas com gabarito comentado

Conheça meu curso intensivo de História do Brasil https://go.hotmart.com/P57899543C 1 .    A liberdade política é esta tranquilidade de espírito que provém da opinião que cada um tem sobre a sua segurança; e para que se tenha esta liberdade é preciso que o governo seja tal que um cidadão não possa temer outro cidadão. Quando o poder legislativo está reunido ao poder executivo, não existe liberdade. Tampouco existe liberdade se o poder de julgar não for separado do poder legislativo e do executivo. Montesquieu. O espírito das leis, 1748 . O direito eleitoral ampliado, a dominação do parlamento, a debilidade do governo, a insignificância do presidente e a prática do referendo não respondem nem ao caráter, nem à missão que o Estado alemão deve cumprir tanto no presente como no futuro próximo. Jornal Kölnishe Zeitung , 04/08/1919. Adaptado de REIS FILHO, Daniel Aarão (org.). História do século XX. Volume 2. Rio de Janeiro: Record, 2002. Os trechos apresentam aspe