Para os amantes de 2º guerra mundial eis um texto interessante abordando a participação alemã na África, que embora não fosse um fronte prioritário para Hitler, proporcionou um custo muito alto para o Estado alemão
O marechal alemão Erwin Rommel, a Raposa do Deserto, causou várias derrotas aos aliados, até ser vencido pela falta de combustível e munição para seus tanques
por Isabelle Somma
No início do verão de 1942, num pequeno oásis egípcio próximo ao vilarejo de Al Alamayn, o marechal alemão Erwin Rommel enfrentava um clima infernal. Durante o dia, um calor de 45ºC à sombra das tamareiras. À noite, a água dos cantis congelava. Mas Rommel se sentia absolutamente confortável e bem disposto. Ele, a Raposa do deserto, vinha de uma vitória após outra contra os ingleses. E naquele oásis de temperaturas tão radicais, já vislumbrava mais um sucesso fulminante contra os aliados na batalha que se desenrolaria no estratégico entrocamento de linhas férreas próximo dali. Mas o destino da Raposa estava selado. Começaria ali o fim da sorte do comandante nazista.
Dois anos antes da chegada de Rommel, as tropas de Mussolini e de Churchill já lutavam nas areias da Líbia. “Era importante para os aliados controlar o Mar Mediterrâneo para prevenir um ataque ítalo-germânico contra os poços de petróleo no Oriente Médio, pelo caminho do Egito”, diz Colin F. Baxter, autor de quatro livros sobre as batalhas na África. No início de 1941, os aliados já dominavam do Egito ao porto líbio de Benghazi. Pelo menos um terço dos 300 mil soldados italianos estacionados na região havia sido capturado. Com poucos recursos, veículos e armamentos obsoletos, as tropas de Mussolini eram vulneráveis aos ataques britânicos.
Para fazer frente às sucessivas derrotas dos italianos, o Führer enviou para o norte da África o jovem general Erwin Rommel e duas divisões Panzer (motorizadas), que ganharam o nome de Afrika Korps. Mesmo com poucos recursos, Rommel logo organizou uma ofensiva contra Benghazi, na atual Líbia. As táticas do alemão eram bastante eficazes e se baseavam em ataques rápidos e de surpresa com blindados. Além disso, ele também contou com a sorte: boa parte dos soldados britânicos foi enviada de volta para o front na Europa, desguarnecendo a frente de batalha africana. Por isso, em abril de 1941, dois meses depois de chegar à África, a Raposa já havia retomado todo o leste da Líbia, exceto o porto líbio de Tobruk, obrigando os aliados a recuar para o Egito.
Mas nos meses se-guintes, depois da troca de dois comandantes, os aliados receberam reforços e conse-guiram colocar alemães e italianos em posição de defesa. As condições em que as batalhas se davam eram bastante difíceis para ambos os lados. A água era racionada e os insetos eram tão onipresentes que era difícil fazer uma refeição sem engolir alguns deles junto com a comida. E, principalmente, o reabastecimento das tropas era precário.
Em maio de 1942, Rommel se instalou em uma região conhecida como Caldeirão. Pareceu um erro estratégico porque a posição mais expunha do que protegia os soldados. Confiantes, os britânicos atacaram com poucos aviões e pequenos grupos de tanques. A tática foi ineficiente. A artilharia alemã concentrou sua mira e colocou boa parte dos tanques inimigos fora de ação. Apesar de também perder muitos blindados, Rommel manteve sua posição e a linha de abastecimento intactas. Na noite de 13 de junho, os britânicos contavam com apenas 70 tanques, enquanto os adversários tinham mais do que o dobro.
As tropas britânicas recuavam para o Egito em meados de 1942, quando, por ordem de Churchill, 33 mil homens e uma grande quantidade de material bélico foram deixados para defender a fortaleza de Tobruk. A Afrika Korps já havia tentado seguidas vezes conquistar a cidade portuária, sempre sem sucesso. Dessa vez, sem a ajuda de reforços para resistir ao cerco, os soldados sitiados se renderam. Além de fazer milhares de prisioneiros, as tropas do Eixo tomaram posse dos armamentos e dos tanques britânicos que encontraram.
A perda de Tobruk foi um duro golpe para os britânicos, que precisavam desesperadamente de uma vitória. “Foi uma grande derrota moral para as forças britânicas. E marcou o ponto alto da fama de Rommel, que foi alçado a marechal por Hitler”, afirma Baxter, professor da Universidade East Tennessee, EUA. Mas começava o verão de 42. Rommel chegou aos pequenos oásis e começou a traçar o plano de ataque a Al Alamayn, a apenas 96 quilômetros de uma das maiores cidades egípcias, Alexandria.
Seus homens estavam cansados pelo forte ritmo do avanço e a Raposa não conseguiu furar o bloqueio encontrado em Al Alamayn , em julho de 1942. Enquanto ele dava um breve período de descanso para seus homens, os bri-tânicos trouxeram reforços, chegando a contabilizar 700 blindados. Do lado alemão, a situação se agravava. A superioridade aérea dos aliados no Mediterrâneo impedia o fluxo de reforços, munição e combustível. Para fazer frente aos soldados ingleses descansados, a Raposa contava com apenas 450 tanques, a maioria obsoletos equipamentos italianos, menos aviões, equipamentos e homens. Mesmo assim, o marechal atacou, mas teve de recuar.
Apesar da pressão de Churchill, o general britânico Bernard Montgomery, esperou sete semanas para contra-atacar. Tinha sob seu comando 230 mil homens, 1230 tanques, além de 1500 aeronaves, enquanto as forças ítalo-alemãs contavam com apenas 80 mil homens, 210 blindados comparáveis aos dos inimigos e 350 aviões.
No dia 3 de novembro de 1942, chegou a tão sonhada vitória para os aliados. Rommel estava na Europa convalescendo. Seu substituto morreu. Uma nuvem de poeira prejudicava a visibilidade. Ouvia-se apenas o barulho da artilharia. Nunca tanta munição havia sido gasta em um único combate. “A batalha de Al Alamayn foi a grande virada na campanha no norte da África, como a batalha de Stalingrado para o front russo”, diz Baxter. Pelo menos 35 mil soldados morreram, a maioria deles do Eixo. Era o fim da lenda e o começo da virada aliada na guerra.
Verão de 1942
Afrika Corps
2 divisões panzer
80 mil soldados
350 aeronaves
210 tanques
Batalhão de blindados ingleses
230 mil soldados
1500 aeronaves
1200 tanques
Ratos do deserto
A 7ª Divisão Blindada da Grã-Bretanha foi um dos destaques no teatro de guerra do norte da África. A divisão se identificava com um roedor comum na região, que sobrevivia em condições bem próximas às que eles aprenderam a suportar. Por isso, ganharam ao apelido de Ratos do Deserto e adotaram o animal como símbolo. “Eles lutaram no norte da África de 1940 a 1943, entre o Egito e a Tunísia. Lutaram por muito tempo em milhares de quilômetros pelo deserto com equipamentos inferiores e liderança frouxa, contra um dos maiores generais de Hitler”, afirma o professor Colin Baxter. Os Ratos do Deserto foram treinados para sobreviver nas péssimas condições do deserto. Além de desarmar minas e combater no campo de batalha, eles tinham como missão penetrar deserto adentro para cortar as vias de comunicação que pudessem servir para abastecimento ou via de escape do exército inimigo. A divisão ainda existe e atualmente está a serviço no Iraque.
Saiba mais
Livro
Desert War: the North African Campaign 1940–43, Alan Moorehead, Penguin, 2001.
A vida e a morte numa lata de sardinha
Uma das maiores inovações na Segunda Guerra foi a construção de tanques rápidos e letais. Esse tipo de armamento foi durante muito tempo o principal fator de sucesso das campanhas alemãs. As divisões Panzer eram praticamente irresistíveis. O tanque alemão mais rápido era o Panther, que fazia 936 metros por minuto. O mais poderoso dos tanques nazistas foi o Tiger II, que pesava 68 toneladas e tinha armamento de 88 milímetros , um calibre de canhão encontrado nos navios. Mas estar dentro de um deles não era garantia de proteção. A precária visão que o condutor do tanque tinha pela pequena viseira na blindagem permitia que os soldados enganassem a guarnição e destruíssem o veículo. Uma das maneiras de fazer isso era deitar-se no solo entre as lagartas do blindado e colar uma mina magnética na parte de baixo do tanque, enquanto ele passava. Era possível também aproximar-se por detrás do blindado sem ser visto, abrir a escotilha superior e jogar no interior apertado uma granada ou bomba incendiária. O resultado é fácil de adivinhar. O maior estrago, no entanto, eram os tiros de artilharia de outros tanques e de aviões-caça adaptados com canhões. Quando uma bala atinge a blindagem, conforme o ângulo e o calibre da arma, ocorre um fenômeno destruidor. O impacto do projétil na blindagem costuma provocar um pequeno buraco na parte externa do tanque, mas a onda de choque e calor faz com que a parte interna do metal da carapaça exploda em dezenas de estilhaços cortantes. Ironicamente, os ocupantes morrem retalhados por pedaços da blindagem que deveria exatamente protegê-los.
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