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Jimmy Carter: Análise da Presidência e Seu Impacto na História dos EUA e do Mundo

    


No últimos dias, como é natural após o falecimento de alguém com a grande relevância histórica, a imprensa tem falado bstante de Jimmy carter. Nesse artigo eu convido você a refletir sobre a  presidência de Jimmy Carter por uma perspectiva que envolva tanto as complexidades internas dos Estados Unidos quanto o olhar de outros países, em especial o Brasil. 
    Em primeiro lugar, é importante entender que Jimmy Carter governou em um período marcado por inúmeros desafios políticos, econômicos e sociais, tanto no âmbito doméstico quanto no internacional. Esse cenário incluiu crises que afetaram diretamente a percepção pública de seu governo e que influenciaram fortemente sua reputação na história. Ao se debruçar sobre esse período, você percebe que 1979 foi um ano particularmente turbulento para os interesses estratégicos dos Estados Unidos e consequentemente para Carter. Foi ali que diversos problemas culminaram e minaram a confiança da população. Um dos mais turbulentos foi a crise dos reféns no Irã, que já era resultado de uma outra derrota estratégica de Washington.
    Essa derrota, a Revolução Iraniana, derrubou um governo alinhado aos interesses norte-americanos e resultou na ocupação da embaixada dos EUA, com cidadãos americanos sendo mantidos reféns por 444 dias. Essa situação colocou em xeque a imagem de força que se esperava de um presidente em plena Guerra Fria e gerou ampla cobertura negativa na imprensa, tanto nacional quanto internacional. A tentativa de resgate — conhecida como Operação Eagle Claw — fracassou devido a falhas logísticas e a um acidente trágico no deserto iraniano, reforçando a ideia de que Carter não conseguia proteger seus próprios cidadãos. Esse contexto externo coincidiu, de forma desastrosa, com dificuldades econômicas internas. Você pode observar que, durante o governo Carter, a estagflação — combinações simultâneas de alta inflação e alto desemprego — atingiu fortemente a sociedade americana. 
    As políticas de Carter, mesmo bem-intencionadas, não foram suficientes para reverter o descontentamento popular, e algumas iniciativas, como a campanha incentivando as pessoas a “usarem suéter” para economizar energia, foram vistas por muitos como insensíveis às angústias diárias de quem sofria com os preços em alta e a insegurança no emprego. Enquanto isso, o Federal Reserve, na tentativa de segurar a inflação, adotava medidas restritivas que, por sua vez, aumentavam o desemprego. Esse ambiente de insatisfação colaborou para que Ronald Reagan surgisse como uma alternativa de esperança, oferecendo mensagens mais otimistas à população. Apesar desses problemas internos, Carter buscava preservar uma política externa pautada em valores que incluíam a promoção dos direitos humanos. Nesse ponto, é possível analisar a história de um caso brasileiro, envolvendo o desaparecimento do filho da estilista Zuzu Angel, como emblemático de um dilema. Carter, ao defender direitos humanos, corria o risco de prejudicar relações diplomáticas importantes, no caso com o Brasil, que vivia sob uma ditadura militar. 
    A reação do presidente brasileiro Ernesto Geisel, rompendo acordos de cooperação militar com os EUA, exemplificou o custo político de seguir uma linha de maior pressão em defesa das liberdades individuais. Alguns enxergaram isso como interferência indevida; outros, como insuficiente. Ainda assim, esse episódio contribuiu para expor ao mundo as violações cometidas pelo regime militar brasileiro, somando-se aos fatores que viriam a fortalecer, no país, movimentos em prol da democracia e do respeito aos direitos humanos. 
     Para compreender melhor a conjuntura de 1979, é necessário lembrar que essa não foi a única crise a afetar Carter. A invasão soviética do Afeganistão, ocorrida no fim desse mesmo ano, abalou a política de détente — um esforço anterior de aproximação entre as duas superpotências. Em resposta, Carter adotou sanções econômicas, anunciou um boicote às Olimpíadas de Moscou de 1980 e impôs um embargo de grãos à União Soviética. Essas medidas demonstraram uma postura firme, mas não impediram a continuidade do conflito, que se estendeu como um prolongado embate entre forças apoiadas pelos Estados Unidos e a própria União Soviética em território afegão. Esse cenário reforçava a imagem de que Carter enfrentava problemas demais ao mesmo tempo, agravando o senso de crise. Na América Central, a derrubada do ditador Anastasio Somoza na Nicarágua pela Frente Sandinista de Libertação Nacional também evidenciava as dificuldades de Carter em gerir a política externa no “quintal” dos Estados Unidos. 
    Você percebe, ao estudar esse caso, que Carter hesitava em apoiar abertamente Somoza, devido à reputação autoritária do regime, mas também temia que o triunfo dos sandinistas resultasse em maior influência soviética ou cubana na região. Assim, ele acabou tendo uma postura que desagravou a ambos os lados. O sucesso revolucionário da Nicarágua reforçou a visão de que os EUA não conseguiam mais controlar totalmente as mudanças políticas em seu entorno. Contudo, você não deve concluir que Carter deixou apenas um legado de fracassos. Em meio a todos esses desafios, houve decisões de grande impacto positivo e de visão estratégica de longo prazo. Duas delas se destacam: a normalização das relações com a China e a mediação dos Acordos de Camp David entre Egito e Israel. No primeiro caso, reconhecer formalmente o governo de Pequim — em detrimento do apoio exclusivo a Taiwan — rompeu com décadas de isolamento sino-americano e explorou o racha crescente entre a China e a União Soviética, contribuindo para enfraquecer o poder soviético na Guerra Fria. Esse gesto, que na época era arriscado e controverso, abriu caminho para o enorme crescimento econômico chinês e para uma relação comercial que se revelaria essencial no cenário mundial das décadas seguintes. 
     No segundo caso, a assinatura do tratado de paz entre Egito e Israel foi fruto direto dos esforços de mediação de Carter em Camp David. Você pode observar que esse acordo garantiu um período prolongado de estabilidade entre dois países historicamente em conflito, inaugurando um relacionamento diplomático que vigora até hoje. Embora não tenha solucionado outros impasses do Oriente Médio, o fato de ter obtido um tratado de paz duradouro entre Egito e Israel se tornou uma das conquistas mais memoráveis da política externa norte-americana. É relevante destacar que, a partir do final de seu mandato, Carter instituiu a Doutrina Carter, reafirmando que os Estados Unidos defenderiam com força militar seus interesses no Golfo Pérsico caso fossem ameaçados, sobretudo pela União Soviética. Essa mudança de postura aproximou Washington de uma política mais assertiva na região, abrindo caminho para uma presença militar estadunidense mais forte no Oriente Médio — algo que traz desdobramentos até os dias atuais. 
     Ao olhar para esse conjunto de eventos, você enxerga o governo Carter como uma experiência paradoxal. Houve fracassos notáveis, especialmente no que diz respeito à imagem pública diante das crises simultâneas que tomaram conta de sua administração em 1979. Mas também houve iniciativas de grande alcance, capazes de moldar transformações duradouras no equilíbrio geopolítico mundial. A busca pela paz no Oriente Médio, a atenção dedicada aos direitos humanos e a aproximação com a China evidenciam uma visão voltada para o futuro, embora muitas vezes ofuscada pelas dificuldades imediatas daquele período. 
     A história de Carter oferece, portanto, uma reflexão sobre a complexidade de liderar em tempos de turbulência internacional e problemas econômicos internos. Quando você avalia esse período, percebe que a noção de “presidente fraco” contrasta com realizações de peso, sinalizando que a trajetória de Jimmy Carter não pode ser entendida apenas a partir das crises que minaram sua popularidade. O legado de suas políticas segue vivo, seja pelas consequências de longo prazo no relacionamento com a China, seja pela manutenção do tratado de paz entre Egito e Israel, seja pelo debate sobre como equilibrar princípios de direitos humanos e interesses estratégicos.

Um grande abraço, 
Professor Arão Alves

#JimmyCarter #PresidênciaCarter #HistóriaEUA #GuerraFria #CriseNoIrã #Estagflação #DireitosHumanos #CampDavidAccords #PolíticaExterna #ChinaEUA

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