Olá meus amigos e minhas amigas, depois de alguns dias
tratando exclusivamente do conflito na
Ucrânia, vamos fazer hoje uma análise do atual cenário do conflito no oriente médio.
Em um cenário sério e que se agrava dia a dia, , os principais diplomatas dos
países do G7 se reuniram em Tóquio na última quarta-feira. Após discussões
aprofundadas, eles chegaram a um consenso sólido: condenaram as ações do Hamas,
manifestaram apoio ao direito de Israel à autodefesa e enfatizaram a
importância das 'pausas humanitárias' para acelerar a assistência aos civis em
situação crítica na Faixa de Gaza.
Em um comunicado emitido após dois dias de reuniões
intensas, essas nações buscaram equilibrar a crítica firme aos ataques do Hamas
contra Israel com a urgência de ações humanitárias em prol dos civis no enclave
palestino sob cerco.
Parece que era mais ou menos isso que 120 países da ONU
aprovaram na Assembleia geral das nações unidas na semana passada. A declaração
saiu direto do gabinete do Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, junto
com os ministros das Relações Exteriores do Reino Unido, Canadá, França,
Alemanha, Japão e Itália. Eles deixaram claro que todas as partes têm que liberar a ajuda
humanitária sem restrições para a, incluindo comida, água, atendimento médico,
combustível e abrigo. Além disso, estão dispostos a apoiar as pausas e
corredores humanitários. A ideia é agilizar a assistência, permitir o movimento
dos civis e a libertação de reféns.
Enquanto os diplomatas batiam aquele papo reto no centro de
Tóquio, uma agência da ONU anunciava: lá em Gaza, milhares de palestinos estão
partindo na pressa para o sul, carregando o que podem nas costas, pois estão
sem comida e água no norte. Israel tá informando que suas tropas estão
encarando os militantes do Hamas no coração da Cidade de Gaza, que costumava
abrigar um bocado de gente, cerca de 650.000, antes da guerra. Israel afirma que
o Hamas tem seu quartel-general e um verdadeiro labirinto de túneis por lá e
que a guerra está começando agora. O número crescente de pessoas que seguem
para o sul aponta para uma situação cada vez mais desesperadora dentro e ao
redor da cidade de Gaza.
Em um gesto significativo, um legislador do partido
Trabalhista da oposição do Reino Unido decidiu renunciar ao seu cargo de
formulador de políticas em protesto. A razão para essa decisão foi a recusa do
líder do partido em apoiar um cessar-fogo na guerra entre Israel e o Hamas na
Faixa de Gaza.
O líder trabalhista, Keir Starmer, manteve sua posição,
recusando os crescentes pedidos dentro de seu próprio partido para pressionar
por um cessar-fogo. Entretanto, ele deixou claro seu apoio a uma pausa
humanitária imediata para aliviar o sofrimento em Gaza.
Imran Hussain, um legislador que representa uma
circunscrição no norte da Inglaterra com uma considerável população muçulmana,
expressou seu compromisso contínuo com a agenda mais ampla de Starmer, mas
sentiu a necessidade de adotar uma posição mais firme em relação à situação em
Gaza
Em uma postagem no Twitter na noite de terça-feira, Hussain,
que é porta-voz do partido para a reforma do emprego, expressou seu desejo de
advogar de forma contundente por um cessar-fogo. Ele afirmou: 'Quero poder
defender fortemente um cessar-fogo'. Para se dedicar plenamente a essa causa,
ele anunciou sua saída da bancada dianteira do Partido Trabalhista.
O Partido Trabalhista, que as pesquisas indicam como forte
concorrente para liderar o próximo governo britânico na eleição prevista para
2024, já enfrentou críticas relacionadas ao antissemitismo durante o mandato de
seu ex-líder, Jeremy Corbyn.
Por falar nisso, a forma como Israel tem atuado na Guerra de
forma indiscriminada, não poupando civis e tratando suas mortes como efeito
colateral, tem contribuído para o crescimento do antissemitismo no mundo e ao
mesmo tempo, em reação a isso, a islamofobia gerando um espécie de choque de
civilizações ou choque religioso.
No que diz respeito a Israel, é importante destacar que o tempo disponível para lidar com o conflito entre Israel e o Hamas não é ilimitado, e a margem de manobra do presidente Biden está diminuindo. Apesar de sinais dados em entrevista na por Nasrallah, líder do grupo Hezbollah, de que não deseja uma guerra em grande escala, ainda é cedo demais para descartar a possibilidade de uma escalada perigosa na região norte, com as toleráveis escaramuças entre eles e israel que acontecem regularmente, para um conflito direto que poderia criar a necessidade de envolvimento de outras forças tanto de um lado quanto do outro.
Apesar de os confrontos estarem em foco na Faixa de Gaza, no domingo à tarde, cresceram as preocupações quanto a um cenário de escalada na fronteira norte. O Hezbollah disparou um míssil antitanque contra um caminhão-tanque nas proximidades do Kibbutz Yiftach, no alto da Galiléia, resultando na trágica morte do civil que dirigia o veículo. Note que não estou falando de foguetes, mas de míssil. Um confronto com o Hesbolah leva o confronto para um outro patamar e traria sérios transtornos para o Líbano, mas também para Israel.
Em resposta ao fogo do Hesbolah, um drone das Forças de Defesa de Israel atingiu um veículo no lado libanês da fronteira. Os relatórios libaneses indicaram que uma mulher e seus três netos perderam a vida no incidente, como podemos ver, essa brincadeirazinha entre os dois lados matou mais quatro civis.
Oficialmente, Israel manteve silêncio no domingo à noite, sugerindo uma possível confusão na identificação da origem do míssil antitanque. O Hezbollah, por outro lado, retaliou disparando foguetes em direção a Kiryat Shmona, dessa vez sem vítimas, e foram apenas foguetes.
No discurso proferido na sexta-feira, Hassan Nasrallah, secretário-geral do Hezbollah, declarou que qualquer ataque israelense acarretaria uma resposta proporcional. Ele enfatizou que, caso Israel cause a morte de civis libaneses, o Hezbollah responderá atingindo civis israelenses. Essa declaração abre espaço para uma possível escalada que pode incluir mais lançamentos de foguetes pelo Hezbollah em direção a comunidades israelenses, ou, quem sabe, até mesmo mísseis, que possuem maior precisão. No entanto, Nasrallah também deixou claro em seu discurso que não busca uma guerra em larga escala.
Apesar das declarações do primeiro-ministro, do ministro da defesa e de outros altos funcionários sobre a continuidade da guerra pelo tempo necessário, incluindo a promessa de desmantelar o governo do Hamas e eliminar seu líder em Gaza, Yahya Sinwar, é inegável que a guerra tem repercussões na arena internacional. Tanto os Estados Unidos quanto o ocidente, precisa levar em conta outras considerações. O problema é que a política americana tem seguido uma lógica de morde e assopra. Ao insistir com Israel por uma pausa humanitária, o que pode transparecer uma diminuição do apoio a Israel, Biden envia um Submarino nuclear para a região e de forma não usual para as características de uso de um submarino militar, divulga sua localização, com direito a foto. Claro que ele está mandando uma mensagem dupla. Uma ao chamado eixo da resistência. Continuem frios ai, que eu não deixei de apoiar Israel, e a outra para o Governo de Israel, que, apesar da insistência em um cessar fogo humanitário, “Tamu junto”. Mas já há quem fale que esse apoio pode perder força.
Essa perspectiva de morde e assopra, talvez não dure para sempre. Isso pode ser lido em algumas declarações do presidente Joe Biden, do Pentágono e do secretário de Estado Antony Blinken, que esteve em Israel no fim de semana. A questão que paira no ar é se os americanos perderão a paciência e abandonarão seu apoio inflexível à guerra contra o Hamas. Funcionários israelenses envolvidos nessa questão afirmam que não se trata de "se," mas de "quando." Segundo algumas avaliações, isso poderá ocorrer entre o Dia de Ação de Graças (23 de novembro) e o Natal.
Após as últimas conversas com Israel, a administração dos
EUA demonstra preocupação com o que vê como uma falta perigosa de um plano de
ação concreto. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu tem se recusado
repetidamente a discutir suas expectativas para o pós-guerra em Gaza,
concentrando-se na promessa de destruir o Hamas, mas sem esclarecer como
pretende fazer isso, especialmente quando os esforços das Forças de Defesa de
Israel estão atualmente focados principalmente no norte de Gaza.
Israel até agora, quanto ao apoio americano, não tem do que
reclamar.
Após o massacre de 7 de outubro, Biden expressou um forte
apoio a Israel e não ficou apenas nas palavras. Demonstrou isso enviando dois
porta-aviões para a região. No entanto, ele também enfrenta pressões internas
na frente política. Com a campanha presidencial se aproximando e dúvidas
surgindo sobre um possível envolvimento dos EUA em mais um conflito no Oriente
Médio, seu espaço de manobra está se reduzindo gradualmente. Lembrem que seu
principal oponente, Trump, defendia o América Fisrt. Ou seja, Biden precisa
ficar de olho na opinião pública doméstica. #Biden
Essa questão é agravada pelos resultados da pesquisa mais
recente do New York Times, que não são favoráveis a Biden, e pela crescente
indignação na ala progressista do Partido Democrata devido às vítimas civis nos
ataques israelenses em Gaza. O apoio declarado de Biden a Israel está
impactando sua popularidade, especialmente entre os jovens, afro-americanos e
hispânicos, grupos que já demonstravam ceticismo em relação ao seu desempenho
no cargo.
Apesar de Israel ter conseguido refutar as alegações
palestinas de que bombardeou um hospital há três semanas, a entrada de tropas
terrestres na Cidade de Gaza aumenta substancialmente o risco de erros.
Primeiramente, em caso de dificuldades das tropas e necessidade de apoio aéreo,
muitos civis podem resultar feridos. Em segundo lugar, a alta densidade
populacional da área significa que inevitavelmente mais civis serão
afetados." #Israel
Outro problema é o clima. Por causa da guerra, a vida em
Gaza já tá bem difícil, e o inverno ainda nem chegou. Em algumas semanas, mais
do que nos anos passados, Gaza vai estar se debatendo na lama, em parte por
causa da enorme destruição. Nessas condições, vai ser difícil manter a
infraestrutura de água e esgoto funcionando. E ainda tem muitos corpos de civis
enterrados nos escombros. Tudo isso pode muito bem levar a uma crise de saúde,
com surtos de doenças infecciosas. E o risco disso é piorado pela enorme
superlotação no sul de Gaza, pra onde boa parte do norte de Gaza fugiu por
exigência de Israel. No domingo, eu mencionei um relatório do Washington Post
de que funcionários americanos estavam defendendo um acordo pra libertar reféns
civis de Gaza em troca de um cessar-fogo de cinco dias. Autoridades de defesa
de Israel disseram que essa ideia não foi pra frente porque o Hamas se opôs.
Tanto os EUA quanto o Catar tentaram promover isso, mas o Hamas evitou qualquer
discussão séria sobre o assunto. #EUA
E aí, o que você acha? Essa recusa reflete uma avaliação de força do Hamas diante da situação, ou é mais um sinal da indiferença geral da liderança deles com o sofrimento do povo de Gaza? Quando o Sinwar lançou aquele ataque em 7 de outubro, ele trouxe essa desgraça toda pro povo de Gaza. Mas como o Netanyahu disse no domingo, parece que a vida dos civis em Gaza não interessa nada pro Sinwar e se a matança de civis em Gaza tinha como objetivo atingir o coração do Hamas, parece que eles não tem coração e os bombardeios israelenses só conseguiram “desativar” o coração da população civil da faixa de gaza e como sabemos, a maioria, mulheres e crianças.
O general da reserva Giora Eiland tava bem pessimista no sábado sobre o progresso da operação terrestre. Numa entrevista pro Canal 12, ele parecia diferente da maioria dos outros generais entrevistados na TV, que normalmente falam do sucesso das operações até agora e dos avanços e objetivos alcançados conforme o planejado.
Para o experiente general, "Não tem sinal de que o
Hamas esteja se rendendo", disse ele. "Estamos vendo eles fazendo
operações complexas e coordenadas com drones, morteiros e mísseis antitanque.
Não são só alguns caras lutando pela vida deles, mas um sistema funcional. Eles
conseguem mover forças de um lugar pro outro, controlam pelo menos 80% do
subsolo e sabem como responder rápido ao que a gente faz. Gaza ainda é o maior
alvo fortificado do mundo."
O que você acha dessa avaliação dele? Será que faz sentido,
ou o militar estaria ficando senil? Faz sentido?
Em contraste, em uma aparente tentativa de melhorar o moral nacional, um alto funcionário da defesa disse aos jornalistas que até agora 20.000 palestinos foram mortos em ataques das IDF, "a maioria deles terroristas". Nenhuma parte dessa afirmação parece muito bem fundamentada.
Estimativas palestinas falam de cerca da metade desse número
de mortes, embora centenas mais ainda possam estar enterradas nos escombros.
Quanto à proporção terrorista-civil, mesmo em operações menores em Gaza, mais
da metade das mortes costumavam ser de civis não envolvidos.
Quanto mais difícil o combate, maiores as chances de matar
civis. Durante as operações americanas no Iraque e no Afeganistão, a proporção
às vezes era de 1:10 - um homem armado morto para cada 10 mortes de civis.
O cerco à Cidade de Gaza foi basicamente concluído, embora
ainda tenha uma lacuna de alguns quilômetros no lado oeste da cidade entre as
forças chegando do norte e as vindas do sul.
O Hospital Shifa não é muito longe dali. De acordo com as IDF, o Shifa é um esconderijo de altos funcionários da ala militar do Hamas, e bases importantes do Hamas ficam perto dele, aproveitando os custos que há no bombardeio de um hospital. #IDF
Oficiais tem descrevido combates difíceis em áreas
superlotadas que sofreram enorme destruição nos ataques aéreos de Israel. A
maioria dos ataques contra os soldados vem de poços de túneis, muitos deles no
meio dos escombros daqueles prédios bombardeados por Israel.
No domingo à noite, os ataques aéreos das IDF no norte de
Gaza aumentaram bastante; esses ataques aparentementetinham como objetivo
atingir esses túneis. Ao mesmo tempo, a
internet e o telefone em Gaza caíram de novo. O porta-voz das IDF, Daniel
Hagari, disse no domingo que na verdade não tem escassez real de combustível em
Gaza, e que o Hamas está estocando combustível, às custas de hospitais e outras
estruturas civis.
O Netanyahu fez outra visita arrogante às IDF no domingo,
dessa vez na base aérea de Ramon. Mas, de algum jeito, o foco principal da
visita - os pilotos - foi omitido do comunicado oficial. A palavra
"piloto" virou meio sensível pra ele depois dos protestos dos pilotos
contra a reforma judicial do governo, e essa pode ser a razão pela qual o
escritório dele só falou no termo mais geral "tripulações aéreas".
Imagine o incômodo que leva o primeiro-ministro a substituir o uso de Pilotos
por Tripulações aéreas. Note o peso da política externa na guerra, isso nunca
pode deixar de fazer parte de nossas análises. #
Ao se referir ao principal líder do Hamas em Gaza, diante de
jornalistas, o Netanyahu descreveu o Sinwar como "um Hitlerzinho escondido
num bunker". #gaza
Essas declarações acabaram não ganhando muita atenção da
imprensa. Na verdade, foi esvaziada diante das declarações realmente
bombásticas, se é que você me entende, feita por um outro membro de seu
gabinete. Mas qual foi a ideia bombástica do senhor Amichai Eliyahu? Bom, ele, teve
a brilhante ideia de jogar uma bomba nuclear em Gaza. Essa assustou até mesmo o
Netanyahu, que logo tratou de anunciar a
suspensão do ministro do gabinete.
Ao mesmo tempo, circulou um vídeo de um rabino da Brigada
Nahal falando num evento militar sobre como ficaria empolgado com a guerra se
não fosse pela questão menor dos mortos e reféns. O Eliyahu, assim como esse
rabino Nahal, reflete um clima comum na ala mais fundamentalista (hardali) do
sionismo religioso, que representa uma mistura meio que incompreensível e
explosiva entre o nacionalismo exacerbado e o fundamentalismo extremista.
Perceberam como a crise política doméstica está longe de ser
resolvida e ao que parece, a guerra também.
Um grande abraço,
Professor Arão Alves
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