Pular para o conteúdo principal

Questão discursiva - História do Brasil - Primeira República - CACD - Instituto Rio branco


 Questão 1

 Em termos sintéticos, as três transformações estruturais da política exterior brasileira na

Primeira República foram

1 a “aliança não escrita” com os Estados Unidos da América;

 

2 a sistemática solução das questões fronteiriças e a ênfase em maior cooperação com os latino-americanos; e 3 os primeiros lances da diplomacia multilateral, na versão regional ou global. Rubens Ricupero. A política externa da Primeira República (1889-1930). In: José Vicente de Sá Pimentel. Pensamento diplomático brasileiro; formuladores e agentes da política externa (1750-1964). Brasília: FUNAG, 2013, vol. II, p. 336 (com adaptações).

 

Redija um texto dissertativo apresentando e analisando eventos históricos e as respectivas

contextualizações que fundamentem a afirmação feita por Rubens Ricupero no fragmento

de texto apresentado acima.

Extensão máxima: 90 linhas

 

 A Primeira República representou algumas transformações estruturais na política exterior brasileira. Acompanhando uma mudança no âmbito sistêmico, buscou-se um entendimento melhor com os Estados Unidos, em especial a partir da chancelaria de José Maria da Silva Paranhos Jr. (1902-1912). No âmbito regional, procurou-se resolver os litígios fronteiriços, além de buscar-se maior cooperação com os latino-americanos, vista como fundamental na garantia da estabilidade e no afastamento de ingerências das potências imperialistas. Também nesse período, deram-se ações de diplomacia multilateral nos âmbitos regional e-global, inaugurando-se tendências que amadureceriam no transcorrer do Século XX.

A “aliança não escrita” com os Estados Unidos da América, segundo Bradford Burns, consistiria em uma aproximação bilateral desenvolvida a partir da chancelaria de Rio Branco, chamado pelo presidente Rodrigues Alves. Rio Branco, um conservador formado na escola realista do poder, nos termos de Ricupero, não buscava a aproximação com os EUA por motivos ideológicos, como Quintino Bocaiúva e Joaquim Nabuco faziam. Para Rio Branco, a aproximação com os EUA era pragmática, relacionando-se ao fato de que eram a grande potência da época. Buscava um padrão similar de relação ao que o Visconde do Uruguai estabelecera com o Reino Unido na década de 1850. Assim, a chancelaria Rio Branco promoveu a troca de embaixadas com Washington e silenciou enquanto demais latino-americanos criticaram a política americana de cobrança de dívidas. Apesar disso, o Brasil enfrentou a diplomacia americana quando foi necessário, como na Conferência de Haia de 1907, em que Rui Barbosa contrariou a delegação americana ao defender a igualdade soberana. O alinhamento com os EUA, portanto, visava o apoio de Washington nas disputas fronteiriças em que o Brasil participava e na dissuasão de pretensões imperialistas europeias, mas tratava-se de uma aliança pragmática, e não de um alinhamento automático. As soluções fronteiriças começaram ainda no Império – e. g. tratados com Uruguai em 1851, com Bolívia em 1864, com Paraguai em 1875 – e tiveram continuidade na república. Com a Argentina, restava equacionar a questão de Palmas, que fora destinada à arbitragem no fim do Império. O novo governo republicano negociou um tratado de distribuição equitativa, mas este não foi ratificado, sendo retomada a ideia de arbitragem.

Representado por Rio Branco, o Brasil venceu a Argentina, representada por Estanislau Zeballos, na arbitragem do presidente Cleveland. Rio Branco também representou o Brasil contra a França, representada por Paul Vidal de La Blache, na arbitragem do presidente da Suíça que localizou o rio Oiapoque (Vicente Pinzón) conforme a interpretação brasileira. Com o Reino Unido, na Questão do Pirara, o Brasil, representado por Nabuco, teve menos sucesso, sendo que o rei italiano evocou o princípio imperialista da ocupação efetiva no laudo arbitral, o que representou ameaça para as fronteiras brasileiras. Outra questão do período que merece destaque é a do Acre, em que Rio Branco utilizou da força e da diplomacia para afastar o Bolivian Syndicate e promover permuta territorial com indenização à Bolívia. A Primeira República também foi marcada por maior cooperação com os latino-americanos. Inicialmente, essa cooperação tinha fundo ideológico: os republicanos que chegaram ao poder acreditavam que a relação com os vizinhos era limitada pela política intervencionista do império. Esse espírito motivou o Tratado de Montevidéu com a Argentina, mas não modificou o intervencionismo do Brasil, manifestado nas ingerências de Cavalcanti no Paraguai com aval de Floriano Peixoto. Com o advento de Rio Branco, essa aproximação tornou-se pragmática e mais efetiva. Rio Branco tinha “temor obsessivo” com relação ao imperialismo, que ele vira se formar quando serviu em Berlim e que vira em ação na Venezuela (cobrança de dívidas) e no Brasil (invasão da Ilha de Trindade, Caso Panther). Para o chanceler brasileiro, a melhor forma de evitar essas ameaças era manter a estabilidade latino-americana, com apoio a governos constituídos. As guerras civis eram pretexto para a ingerência estrangeira. Neste sentido, manteve neutralidade no Paraguai (realizando o “gambito do rei” com a Argentina) e no Uruguai e buscou certa cooperação com Argentina e Chile, chegando a redigir o Pacto ABC de 1907, o qual, no entanto, não foi assinado. Os sucessores do barão dão seguimento ao seu legado. Após a Conferência de Niagara Falls, Lauro Müller conseguiu a assinatura do Pacto ABC de 1915, o qual, no entanto, é rejeitado por novo governo argentino. Soma-se a isso os primeiros lances da diplomacia multilateral do Brasil. No âmbito regional, cabe lembrar a Conferência de Washington de 1889, quando o representante brasileiro foi substituído após o golpe republicano, e passou a apoiar os interesses de Washington – arbitramento obrigatório, moeda comum e ferrovia continental. O âmbito multilateral regional, no entanto, era difícil para a diplomacia brasileira em decorrência de diversas acusações de vizinhos de que o Brasil promovia corrida militar, principalmente após a compra dos dreadnoughts e da recusa do Brasil a assinar o tratado naval de limite de tonelagem. O Brasil buscou amenizar essas resistências por meio da assinatura do Pacto Gondra, proposta pacifista paraguaia. O Brasil também se projetou no âmbito multilateral global. Digno de destaque, nesse sentido, foi a participação de Rui Barbosa na II Conferência de Haia, realizada em 1907, em que a participação do Brasil foi decisiva para que fosse salvaguardado o princípio da igualdade soberana entre as nações na Corte Permanente de Arbitragem que era estabelecida. Cabe frisar, outrossim, a participação do Brasil na Primeira Guerra Mundial, com envio da DNOG e de médicos e enfermeiros. Com isso, conseguiu o Brasil garantir a participação na Conferência de Paz de Versalhes, a posse de navios surtos, a indenização pelo café brasileiro vendido à Alemanha e a participação na Liga das Nações, organização que o governo Artur Bernardes deixaria em 1926 após o fracasso da campanha brasileira de integrar o Conselho Executivo de modo permanente. Em que pesem eventuais desinteligências, a diplomacia da I República logrou resultados importantes para o Brasil, como a boa relação com os EUA – inevitável diante do quadro sistêmico – e a cooperação com latino-americanos – a despeito de avanços e recuos com a Argentina, que perdurariam até a década de 1980. O legado de não intervenção e de busca de inteligência cordial na América do Sul, por fim, deixado por Rio Branco, informa a PEB até a atualidade.

João Marcelo Conte Cornetet


Conheça nossos Cursos:

 

Revisão Espaçada de História do Brasil, História Mundial e Política Externa Brasileira para o CACD

OBS: Para você que leu a descrição do vídeo, o que poucos fazem, tenho um prêmio especial, 20% de desconto no curso. Para isso, quando estiver na página de pagamento, clique em "Tenho cupom de desconto" e digite: naovouperderessaoportunidade

Obs: Digite tudo junto e sem acento

Link para conhecer o curso:

https://www.hotmart.com/product/decks-semanais-de-revisao-espacada-historia-do-brasil-historia-mundial-e-peb/O59416948W

 

CACD 1ª fase – História do Brasil, História Mundial e História da Política Exterior Brasileira.

ATENÇÃO!!! Anote esse cupom e ganhe 50% no Curso de Simulados semanais 1ª fase para o CACD

CUPOM: cacdhbhg50off

Preencha o código acima, clique em aplicar, e o preço cai pela metade.

https://www.hotmart.com/product/historia-do-brasil-e-historia-mundial-cacd-simulado-semanal/U58159448S?off=118z1ouj

CACD 3ª fase

https://historiaemgotasacademy.com/cartflows_step/content-marketing-landing-3-2/

Curso Extensivo PS/CAEM - ECEME - História do Brasil e História Mundial

 https://historiaemgotasacademy.com/cartflows_step/content-marketing-landing-2/

 

Professor Arão Alves




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Questões discusivas com gabarito comentado - Renascimento Cultural

Para não perder as novidades, inscreva-se no Canal HIstória em gotas:   https://www.youtube.com/channel/UC23whF6cXzlap-O76f1uyOw/videos?sub_confirmation=1 1 .    Um dos aspectos mais importantes da nova ordem decorrente do Renascimento foi a formação das repúblicas italianas. Dentre elas, se destacaram Florença e Veneza. Essas repúblicas inovaram no sentido das suas formas de governo, assim como na redefinição do lugar do homem no mundo, inspirando a partir daí novas formas de representá-lo. a) Tomando o caso de Florença, explique como funcionavam as repúblicas italianas, levando em conta a organização política e os vínculos entre os cidadãos e a cidade, e indique o nome do principal representante das ideias sobre a política florentina no século XVI. b) Analise o papel de Veneza no desenvolvimento do comércio europeu, e suas relações com o Oriente.     2 .    As imagens abaixo ilustram alguns procedimentos utilizados por um no...

Questões discussivas com gabarito sobre Primeira guerra e crise de 29

Para não perder as novidades, inscreva-se no Canal e clique no sino: https://www.youtube.com/channel/UC23whF6cXzlap-O76f1uyOw/videos?sub_confirmation=1 #partiuauladoarão 1 . (Unifesp 2011)  Numa quinta-feira, 24 de outubro de 1929, 12.894.650 ações mudaram de mãos, foram vendidas na Bolsa de Nova Iorque. Na terça-feira, 29 de outubro do mesmo ano, o dia mais devastador da história das bolsas de valores, 16.410.030 ações foram negociadas a preços que destruíam os sonhos de rápido enriquecimento de milhares dos seus proprietários. A crise da economia capitalista norte-americana estendeu-se no tempo e no espaço. As economias da Europa e da América Latina foram duramente atingidas. Franklin Delano Roosevelt, eleito presidente dos Estados Unidos em 1932, procurou combater a crise e os seus efeitos sociais por meio de um programa político conhecido como New Deal . a) Identifique dois motivos da rápida expansão da crise para fora da economia norte-americana...

Regime civil-militar - Questões discursivas com gabarito comentado

Para não perder as novidades, inscreva-se no canal e clique no sino . https://www.youtube.com/channel/UC23whF6cXzlap-O76f1uyOw/videos?sub_confirmation=1 1 . (Uel 2013)  Analise a foto, a seguir, tirada durante o período do Regime Militar no Brasil (1964-1985). a) Identifique e descreva dois elementos da foto que permitam caracterizar o Regime Militar no Brasil. b) A luta pela anistia ampla, geral e irrestrita tem desdobramentos no presente, a exemplo da Comissão da Verdade. Discorra sobre essa Comissão. Resposta: a) O candidato deve identificar e descrever dois elementos da foto que permitam caracterizar o regime militar. Por exemplo, a faixa com o nome de Vladmir Herzog, que se refere à morte do jornalista no aparato de repressão; o movimento pela anistia ampla, geral e irrestrita; a faixa sobre a questão econômica (inflação e especulação financeira); UNE – União Nacional dos Estudantes; Movimento Estudantil; manifestações públicas e/ou passeatas...