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Uerj 2015 - História - Questões discursivas - gabarito comentado





Grupo de estudo para provas específicas: https://www.facebook.com/groups/660763183949872/


1. (Fgv 2015)  Em determinado momento da sua história, Pedro Bala, personagem do romance Capitães da Areia, de Jorge Amado, descobre sua verdadeira origem. Que consequências esta descoberta trouxe à personagem e qual a relação deste aspecto da história com a história social e política brasileira da época em que o livro foi escrito?


Resposta:

[Resposta do ponto de vista da disciplina de História]
A obra “Capitães da Areia”, de Jorge Amado, foi publicada em 1937 um pouco antes do golpe do Estado Novo que implantou uma ditadura política criando uma hostilidade entre a sociedade brasileira e os comunistas. O livro foi escrito no contexto da chamada “Intentona Comunista” de 1935 quando os comunistas tentaram derrubar o governo de Vargas. O romance reflete muito daquele cenário histórico de radicalização política, possui um viés maniqueísta visando uma certa doutrinação política de esquerda. Pedro Bala, personagem da obra, descobre que é filho de Raimundo, um líder sindical que foi morto em um confronto político-social. Assim, Pedro Bala adquire consciência política e vai se envolvendo com a política revolucionária de esquerda.

[Resposta do ponto de vista da disciplina de Português]
Em um certo momento da narrativa, Pedro Bala descobre que é filho de um líder grevista, morto a tiro durante uma greve que liderava. Tinha ido parar na rua por volta dos cinco anos de idade e, por ser o mais capacitado e corajoso, tornara-se o líder de um grupo de mais de 50 crianças abandonadas que viviam de pequenos furtos e assaltos para poder sobreviver. As
histórias que ouve a respeito de seu pai contribuem para que desenvolva uma forte consciência política. Mais tarde, decide sair do grupo, passa o comando para Barandão e parte para Acaju a organizar a luta dos Índios Maloqueiro. A adesão de Pedro Bala aos ideais comunistas justifica-se pelo momento histórico que o Brasil vivia no ano em que o romance de Jorge Amado foi editado, 1937. Tratava-se de um momento conturbado, provocado pela forte oposição ao governo ditatorial de Getúlio Vargas impulsionada pela tomada de consciência da luta de classes por determinados setores sociais. Literariamente, a Geração de 30, também conhecida como Segunda Geração do Modernismo, voltou-se para a denúncia da realidade nacional, analisando criticamente a relação homem x sociedade com um viés ideológico marcadamente de esquerda / marxista. A linguagem abandona o radicalismo inovador do Modernismo de 22, atinge certo equilíbrio e as narrativas adotam uma postura mais documental para expor e denunciar a realidade brasileira, focalizando o aspecto social.



  
2. (Uerj 2015) 



O ano de 1968 tornou-se sinônimo de uma rebelião estudantil mundial. Mas 1968 não existiu de uma forma isolada, ele foi o ponto culminante de uma década de movimentos que se espalharam por quase todo o planeta. No Brasil, na França, no México, nos Estados Unidos, na Espanha, no Canadá, na Argentina, na Venezuela, na Polônia, na Tchecoslováquia, países com diferentes realidades políticas e diversas condições econômicas se viram enfrentando um mesmo fenômeno político: rebeliões de jovens estudantes universitários e secundaristas.

Adaptado de ARAUJO, M. P. Memórias estudantis: da fundação da UNE aos nossos dias. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2007.

Os movimentos de contestação política ocorridos na década de 1960 tiveram motivações variadas. No Brasil, a Passeata dos Cem Mil foi o episódio mais marcante nesse contexto.

Aponte dois elementos do contexto político brasileiro da época associados diretamente à ocorrência dessa passeata. Em seguida, apresente um motivo que, em 1968, contribuiu para a eclosão de revoltas em um dos outros países citados no texto.


Resposta:

1968, conhecido como “o ano que não terminou”, devido a sua importância histórica. O mundo estava em total turbulência cultural, política, social, etc. Os novos agentes históricos são jovens, a juventude quer a mudança. No Brasil, nesta data, ocorreu a famosa Passeata dos Cem Mil. Estavam associados a este acontecimento histórico, a reestruturação do movimento estudantil, ampliação da oposição à ditadura militar, a morte do estudante secundarista Edson Luís, ampliação dos protestos contra a violência da repressão política, cerceamento das liberdades políticas a partir do Golpe Militar de 1964, entre outros. Outros grandes acontecimentos históricos que estavam ocorrendo no mundo foram a Primavera de Praga, críticas à Guerra do Vietnã, expansão da contracultura e da revolução sexual, apropriação das ideias da Revolução Cultural Chinesa, desdobramentos das lutas de Descolonização na Ásia e na África, o “Maio Francês”, etc.



  
3. (Uerj 2015)  Carta de Convocação dos Estados Gerais

Por ordem do Rei.

Temos necessidade de nossos fiéis súditos para nos ajudarem a superar todas as dificuldades em que nos achamos e para estabelecer uma ordem constante e invariável em todas as partes do governo que interessam à felicidade dos nossos súditos e à prosperidade de nosso reino. Esses grandes motivos nos determinaram convocar a assembleia dos Estados de todas as províncias sob nossa obediência, para que seja achado, o mais rapidamente possível, um remédio eficaz para os males do Estado e para que os abusos de toda espécie sejam reformados e prevenidos.

Versalhes, 24 de janeiro de 1789.

Adaptado de MATTOSO, K. de Q.. Textos e documentos para o estudo de história contemporânea. São Paulo: Edusp, 1976


A convocação dos Estados Gerais deu início à Revolução Francesa, ocasionando um conjunto de mudanças que abalaram não só a França, mas também o mundo ocidental em finais do século XVIII.

Cite um motivo para a convocação dos Estados Gerais na França, em 1789, e apresente duas consequências da Revolução Francesa para as sociedades europeias e americanas.


Resposta:

Entre as causas para a convocação dos Estados Gerais em meados de 1789, o aluno pode citar a crise financeira, a proposta de equidade fiscal, endividamento do Estado francês e o encaminhamento de uma reforma tributária por parte do Estado. Entre as consequências podem ser citados a divisão do poder político, defesa da ideia de liberdade, crise do absolutismo monárquico, defesa da ideia de igualdade jurídica, substituição da ideia de súdito pela ideia de cidadão, fim da sociedade estamental (fim dos privilégios de nascimento ou de origem) e o estabelecimento da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão.



  
4. (Uerj 2015)  Um novo memorial foi inaugurado no campo de concentração nazista de Mauthausen, na Áustria, com a presença de três chefes de Estado: o austríaco Heinz Fischer, o húngaro Janos Ader e o polonês Bronislaw Komorowski, além da ministra israelense da Justiça, Tzipi Livni. O novo memorial - “Mauthausen, lugar de um crime” - inclui duas exposições que revelam o dia a dia do campo de concentração através de entrevistas com 48 sobreviventes. No total, duzentas mil pessoas, procedentes de quarenta países, incluindo cerca de cinquenta mil judeus, foram detidas até 1945 em Mauthausen. Ao menos noventa mil morreram devido ao extenuante trabalho nas minas de granito, à má nutrição, às doenças e às execuções.




Adaptado de notícias.r7.com, 05/05/2013.

O Holocausto vem sendo cada vez mais associado à memória histórica de sociedades europeias. Indique duas repercussões do Holocausto para o contexto internacional posterior ao fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Indique, também, a importância simbólica da criação de memoriais como o citado na reportagem.


Resposta:

Entre as repercussões do Holocausto para o contexto internacional podemos citar a criminalização internacional do nazismo, apoio à criação do Estado de Israel na Palestina, criminalização de ações discriminatórias de raças, povos e etnias, denúncia e condenação internacional, no contexto do Tribunal de Nuremberg, dos crimes contra a humanidade cometidos pelo Estado Nazista, Criação da ONU e da Declaração Universal dos Direitos Humanos, etc. A criação de memoriais possui uma importância simbólica ao promover a valorização das memórias e o reconhecimento dos crimes cometidos para as novas gerações, estimular a condenação de ações de perseguição e de extermínio, em especial os genocídios, bem como provocar a reflexão sobre a importância do respeito às diferenças étnicas, culturais, religiosas, etc.




  
5. (Uerj 2015) 



O grupo que criou o atual Estado Islâmico foi formado no Iraque, em 2006, por iniciativa da Al-Qaeda. Seu principal líder, Abu Bakr al-Baghdadi, proclamou, em junho de 2014, um “califado” abrangendo cerca de 25% da Síria e 40% do Iraque. A maioria dos territórios controlados pelo Estado Islâmico, principalmente no Iraque, são desérticos. Para Romain Caillet, especialista em movimentos islâmicos, o grupo sobrevive essencialmente de autofinanciamento. Seus métodos são uma mistura de terror e prestação de serviços sociais para as populações que estão sob seu controle.

Adaptado de diariodepernambuco.com.br, 21/08/2014.


O Estado Islâmico criado em regiões do Oriente Médio alterou as relações entre os governos locais e muitas nações ocidentais, gerando novas ameaças e conflitos, como se observa por meio do mapa e da reportagem.

Identifique uma característica da ação política do grupo que criou o Estado Islâmico. Em seguida, aponte um motivo para a oposição norte-americana à sua existência.


Resposta:

Entre as características da ação política do Estado Islâmico podemos citar a defesa do fundamentalismo religioso de forma extremista, crítica ostensiva ao Estado laico e aos princípios democráticos ocidentais, utilização de práticas terroristas, como sequestros, assassinatos, saques, defesa do militarismo para expansão do islamismo fundamentalista (Jihadismo). A oposição dos Estados Unidos ao Estado Islâmico está associada ao interesse na exploração e comércio do petróleo da região, aliança com o Estado de Israel no contexto dos conflitos com os países árabes, defesa da posição hegemônica norte-americana na difusão internacional dos ideais liberal-democráticos e dos direitos humanos, combate à Al-Qaeda e ao fundamentalismo islâmico, no contexto das repercussões do atentado às Torres Gêmeas, no Onze de Setembro.



  
6. (Fgv 2015)  Não foi essencialmente demográfico no sentido de que o movimento colonizador não foi impulsionado por pressões demográficas (como na Antiguidade, a colonização grega), mas tem dimensão demográfica no sentido de que envolve amplos deslocamentos populacionais (...). A colonização moderna foi um fenômeno global, no sentido de envolver todas as esferas da existência, mas seu eixo propulsor situa-se nos planos político e econômico.

NOVAIS, F. Condições de privacidade na colônia. História da vida privada no Brasil. Cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 18.


a) Explique as razões pelas quais a colonização portuguesa da América não foi provocada por pressões demográficas.
b) Exemplifique os tipos de deslocamentos populacionais dirigidos para a América portuguesa.
c) Apresente os elementos político e econômico que propulsionaram a colonização moderna.


Resposta:

a) A baixa densidade demográfica portuguesa era insuficiente para explorar uma colônia de tamanha dimensão territorial como o Brasil.
b) Pessoas pobres de Portugal se deslocaram para o Brasil e negros da África foram arrancados do seu mundo e vendidos como escravos na América colonial.
c) A Europa Moderna no campo político era caracterizada pelo Absolutismo com o poder nas mãos dos reis e na esfera econômica havia o Mercantilismo que preconizava o Estado intervencionista, o protecionismo alfandegário, o metalismo, entre outras características. A colonização da América era uma forma de angariar recursos para os Estados Modernos Europeus.



  
7. (Unesp 2015) 



A imagem 1 deriva de uma campanha governamental e a imagem 2 é uma charge, ambas referentes ao Brasil dos anos 1970. É correto dizer que cada uma delas trata o lema “Brasil: ame-o ou deixe-o” de forma diferente? Justifique sua resposta, associando as imagens ao regime político brasileiro do período.


Resposta:

Sim. A primeira imagem remete a uma propaganda oficial do governo militar enquanto a segunda é uma sátira sobre esta mesma propaganda. As duas imagens foram elaboradas na década de 1970, no auge da ditadura militar, sobretudo no governo Médici, 1969-1974. Após a edição do AI-5 de 13 de dezembro de 1968 ainda no governo de Costa e Silva, o regime militar endureceu começando os “anos de chumbo”, o “ame-o ou deixe-o”. Como forma de resistência política surgiu a luta armada através de guerrilhas rurais e urbanas que foram duramente reprimidas e banidas pelos militares. O governo pretendia com este lema “ame-o ou deixe-o” estimular o patriotismo dos brasileiros. Este contexto de violação aos direitos humanos é uma triste página de nossa história que foi analisado pela recente “Comissão Nacional da Verdade”.



  
8. (Fuvest 2015)  Em 25 de abril de 1984, a Câmara dos Deputados do Brasil rejeitou a Emenda Constitucional que propunha o restabelecimento das eleições diretas para a presidência da República. Durante quase nove meses, situação e oposição realizaram articulações políticas, visando à escolha do novo presidente. Em 15 de janeiro de 1985, Tancredo Neves foi eleito presidente do Brasil por um Colégio Eleitoral.

a) Explique em que consistia esse Colégio Eleitoral e como ele era composto.
b) Identifique e caracterize a articulação política vitoriosa na eleição presidencial de 1985.


Resposta:

a) Colégio Eleitoral era o conjunto de políticos escolhidos para eleger o Presidente da República de maneira indireta. Era formada por membros do Congresso Nacional e por alguns deputados estaduais indicados pelas Assembleias Legislativas Estaduais.
b) A “Aliança Democrática” foi a articulação vitoriosa em 1985. Ela tinha como candidato à Presidência Tancredo Neves e como candidato à vice José Sarney.



  
9. (Unicamp 2015) 



As duas imagens fazem parte de um trabalho do artista plástico Cildo Meireles, intitulado “Inserções em Circuitos Ideológicos - Projeto Cédula (1970-2013)”.

a) Como as inscrições produzidas pelo artista se relacionam aos momentos históricos a que as obras se referem?

b) Cite e explique a principal diferença, do ponto de vista da divulgação das obras, entre os anos 1970 e 2013. 


Resposta:

a) A inscrição “quem matou Herzog” refere-se ao jornalista Vladimir Herzog, morto na Ditadura Militar e, portanto, faz uma crítica a esse regime. Já a inscrição “cadê Amarildo” refere-se ao sumiço do pedreiro Amarildo em uma comunidade carioca na atualidade, promovida por policiais de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e, logo, faz uma crítica ao abuso policial contra as populações de baixa renda.

b) A principal diferença é a CENSURA. Em 1970 ela era amplamente exercida pelo regime militar, que cerceava artistas e a imprensa. Em 2013 ela era inexistente, dando a imprensa total liberdade de divulgação. 




  
10. (Fgv 2015) 



a) Comente e explique o significado das imagens do quadro Abaporu.
b) O quadro é representativo de qual movimento artístico? Quais elementos presentes na obra justificam esta classificação?


Resposta:

a) A obra de Tarsila do Amaral “Abaporu” evidencia uma brasilidade através das cores da nossa bandeira e da vegetação exuberante. O “Abaporu”, o homem que come, remete a um indígena antropófago fazendo referência a um fato histórico ocorrido no século XVI dentro do Brasil Colonial quando um índio (cultura nacional) ingeriu em um ritual de canibalismo um branco europeu (cultura estrangeira).

b) Movimento Antropofágico. Foi lançado em 1928 por Oswald de Andrade, então marido de Tarsila do Amaral. Características do Movimento: enfoque crítico do nacional através de sátiras e ironias, Primitivismo com a retomada do olhar primitivo, entre outras características. A obra de Tarsila do Amaral está vinculada a década de 1920, quando ocorreu uma contestação política (Tenentismo) e estética (Modernismo) à República Velha.



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