Ator central do espectro da “guerra cambial” que paira sobre o mundo, a China resistirá ao máximo ao apelo internacional para que aprecie sua moeda de maneira expressiva. A decisão do Japão de sucumbir à pressão dos Estados Unidos e aceitar a valorização de sua moeda em 1985 é uma das principais razões apresentadas por muitas das autoridades chineses para resistir ao coro global a favor da apreciação do yuan.
“A China não repetirá o erro do Japão”, avisou há duas semanas Li Daokui, economista e membro do comitê de política monetária do Banco do Povo da China. Depois de permitir a apreciação do iene, o Japão entrou em um período de especulação que levou à formação de bolhas de ativos. Quando elas estouraram, no início dos anos 90, o país mergulhou na chamada “década perdida”, da qual ainda não conseguiu se recuperar totalmente.
Ainda que muitos sustentem que a crise foi originada por outros fatores que não a mudança cambial, a China não está disposta a correr o risco de repetir a história do país vizinho, o qual acaba de deixar para trás na corrida pelo posto de segunda maior economia do mundo.
A mudança cambial do Japão ocorreu a partir do Acordo Plaza, assinado em setembro de 1985 em Nova York pelos países que integravam o G5 _Estados Unidos, Japão, Alemanha, França e Inglaterra. O pacto decorreu da ação coordenada entre as maiores economias industrializadas, movimento semelhante ao defendido agora pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para enfrentar a ameaça de uma “guerra cambial”. O objetivo do Acordo Plaza era desvalorizar a moeda dos Estados Unidos, que acumulava grandes déficits comerciais, e apreciar o iene. A moeda japonesa estava cotada na época a 240 por dólar. Em 1987, já estava em 130 por dólar. Atualmente, gira em torno de 85.
A China considera seu sistema cambial uma questão de política interna, em relação à qual os demais países não devem se manifestar _mesmo que ela afete preços relativos do comércio global. O controle da taxa de câmbio é visto como elemento central da estratégia de desenvolvimento do país, na qual as exportações cumprem papel relevante. “A apreciação do yuan antes que a China seja realmente próspera vai prejudicar o desenvolvimento sustentável da indústria manufatureira”, escreveu no jornal oficial China Daily o economista Mei Xinyu, da Academia Chinesa de Comércio Internacional e Cooperação Econômica, ligada ao Ministério do Comércio.
Na opinião de Mei, a China sofreria mais que o Japão na hipótese de apreciação significativa da moeda, em razão dos diferentes estágios de suas economias. “O Japão havia entrado na fase pós-industrial e já integrava a lista dos países desenvolvidos naquela época [1985], enquanto a China ainda percorre o caminho da industrialização.”
Mas como a China de hoje, o Japão dos anos 80 tinha grandes superávits comerciais com os Estados Unidos, acumulava reservas estrangeiras e usava sua poupança para comprar títulos do Tesouro norte-americano. E como a China de hoje, o Japão também emergia como um país capaz de desafiar a posição dos Estados Unidos como grande potência mundial. Isso faz com que não poucos em Pequim tenham teorias conspiratórias, que vêem na pressão norte-americana pela valorização do yuan uma estratégia para minar a ascensão chinesa.
http://blogs.estadao.com.br/claudia-trevisan/about/
Comentários
Postar um comentário