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História do Brasil - Questões comentadas




 1.   Durante séculos, os escravos afro-americanos aprenderam a ler em condições extraordinariamente difíceis, arriscando a vida. Aqueles que quisessem se alfabetizar eram forçados a encontrar métodos tortuosos de aprender. Aprender a ler, para os escravos, não era um passaporte imediato para a liberdade, mas uma maneira de ter acesso a um dos instrumentos poderosos de seus opressores: o livro. Os donos de escravos (tal como os ditadores, tiranos, monarcas absolutos e outros detentores do poder) acreditavam firmemente no poder da palavra escrita. Como séculos de ditadores souberam, uma multidão analfabeta é mais fácil de dominar; uma vez que a arte da leitura não pode ser desaprendida, o segundo melhor recurso é limitar seu alcance. Os livros, escreveu Voltaire no panfleto satírico Sobre o Terrível Perigo da Leitura, “dissipam a ignorância, a custódia e a salvaguarda dos estados bem policiados”.

Alberto Manguel. Uma história da leitura. (Trad. Pedro Maia Soares). São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 312-15 (com adaptações).

A partir do texto acima, julgue o item abaixo.

Em Salvador, na rebelião conhecida como a Revolta dos Malês — confronto sangrento entre escravos africanos seguidores do islamismo e tropas do governo brasileiro —, destaca-se o fato de muitos revoltosos estarem aptos para ler e escrever no idioma árabe, o que contribuiu para a preparação da insurreição.


Resposta:

Correto – considerando que a base da religião é o Corão e que essa obra é escrita em língua árabe e não era traduzida, os convertidos de qualquer região acabavam forçados a aprender o árabe. Isso explica o fato de diversos povos africanos conhecerem essa língua, pois desde o século VII houve um processo de islamização em diferentes regiões do continente.
O conflito citado foi uma das rebeliões do período regencial, ocorrida em 1835 e massacrada pelo governo.




TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Tornou-se costume desdobrar a cidadania em direitos civis, políticos e sociais. O cidadão pleno seria aquele que fosse titular dos três direitos. Cidadãos incompletos seriam os que possuíssem apenas alguns dos direitos. Os que não se beneficiassem de nenhum dos direitos seriam não cidadãos. Esclareço os conceitos. Direitos civis são os direitos fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei. Eles se desdobram na garantia de ir e vir, de escolher o trabalho, de manifestar o pensamento, de organizar-se, de ter respeitada a inviolabilidade do lar e da correspondência, de não ser preso a não ser pela autoridade competente e de acordo com as leis, de não ser condenado sem processo legal regular.
É possível haver direitos civis sem direitos políticos. Estes se referem à participação do cidadão no governo da sociedade. Seu exercício é limitado a parcela da população e consiste na capacidade de fazer demonstrações políticas, de organizar partidos, de votar, de ser votado. Finalmente, há os direitos sociais. Se os direitos civis garantem a vida em sociedade, se os direitos políticos garantem a participação no governo da sociedade, os direitos sociais garantem a participação na riqueza coletiva. Eles incluem o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, à aposentadoria. A garantia de sua vigência depende da existência de uma eficiente máquina administrativa do Poder Executivo. Em tese, eles podem existir sem os direitos civis e, certamente, sem os direitos políticos.

José Murilo de Carvalho. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, p. 9-10.


2.   A história do Brasil no século XX foi marcada por períodos em que direitos civis e políticos da população foram total ou parcialmente suprimidos ou ignorados pelo Estado. Em pelo menos um desses períodos, houve significativa expansão dos chamados direitos sociais. Em que contexto histórico os direitos sociais da população brasileira se expandiram, a despeito da violação flagrante de direitos civis e da introdução de restrições à participação política? Justifique sua resposta.


Resposta:

Pode-se considerar que tal situação ocorreu durante a Era de Vargas, em especial nos períodos 1930-34 e 1937-45, marcados por forte centralização política, pela ausência de Poder Legislativo Federal, intervenção federal nos Estados e, no Estado Novo, por perseguições políticas e prisões arbitrárias. Ao mesmo tempo os direitos civis foram preservados e os direitos sociais ampliados, principalmente no que se refere à política trabalhista adotada e aos direitos que dela derivaram. Também no campo de educação e saúde houve ampliação quantitativa da ação do Estado.



  
3.   O período da História do Brasil conhecido como República Democrática (1946-1964) apresentou um grande dinamismo econômico-social. Também caracterizou-se por uma forte efervescência cultural, que acompanhou o crescimento da economia e da urbanização. Sobre esse processo, é INCORRETO afirmar:
a) Como efeito da constituição de uma “cultura de massas” no país, tivemos o aumento da circulação dos jornais, o incremento do rádio e o surgimento da televisão, com a inauguração da TV Tupi, em São Paulo, em 1950.   
b) Na literatura, a maior liberdade política do período permitiu o surgimento de um movimento de escritores conhecido como “terceira geração modernista”, que apostou na experimentação da linguagem, como Guimarães Rosa.   
c) A produção cinematográfica brasileira conhecida como “chanchada”, comédia musical popular da Atlântida, iria atingir o seu auge durante os anos 50, momento de aceleração da industrialização no País.   
d) Houve significativa diversificação da música nacional, com o surgimento de movimentos musicais que apresentavam novas formas de expressão e questionavam os valores tradicionais, como a Bossa Nova e a Jovem Guarda.   
e) As artes plásticas foram renovadas por uma geração de artistas que iria abandonar a crítica social e a arte figurativa em favor de uma estética mais formal, como o neo-concretismo de Lygia Clark e de Hélio Oiticica.   


Resposta:

[D]

Somente a alternativa [D] está correta. A questão exige diversos conhecimentos sobre a República Liberal Populista, 1946-1964. A questão pede para assinalar a incorreta, [D], a Jovem Guarda surgiu na segunda metade da década de 1960 liderada por Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderléa e outros, não questionavam a política vigente, ou seja, a ditadura militar. Após emplacar grandes sucessos, como “Quero Que Vá Tudo Pro Inferno”, “Festa de Arromba”, “Biquíni Amarelo”, “Meu Bem” e “A Festa do Bolinha”, a Jovem Guarda começou a se esgotar durante o fim da década de 60. Sem dúvida, a maior crítica foi a falta de engajamento político e social de suas canções. De qualquer forma, a Jovem Guarda revelou grandes artistas, como Roberto Carlos, por exemplo, considerado por alguns como um dos maiores cantores da história do Brasil.



  
4.  
Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
[...]
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Gonçalves Dias, Primeiros cantos.
Canto do regresso à pátria

Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
[...]
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo.

Oswald de Andrade, Pau-Brasil.


a) Considerando que os poemas foram escritos, respectivamente, em 1843 e 1924, caracterize seus contextos históricos sob os pontos de vista político e social.
b) Comparando os dois poemas, indique uma diferença estética e uma diferença ideológica entre ambos.


Resposta:

[Resposta do ponto de vista da disciplina de História]
a) Em 1843 o Brasil atravessa um período de fim da Regência e início do Segundo Reinado. A ascensão de d. Pedro II ao trono acabou por acalmar os ânimos políticos e sociais do Império.
Em 1924 o país atravessava um período de questionamentos acerca do governo oligárquico. A maior marca desses questionamentos foram os Levantes Tenentistas.

[Resposta do ponto de vista da disciplina de Português]
a) O contexto histórico de consolidação do Estado nacional brasileiro explica o nacionalismo ufanista de Gonçalves Dias, postura comum aos poetas da época, que tinham como propósito a construção de uma literatura verdadeiramente nacional, que refletisse a identidade da jovem nação brasileira.
Nesse contexto se insere o Modernismo, iniciado a partir da Semana de Arte Moderna, em 1922. O propósito dos poetas dessa época, entre eles Oswald de Andrade, era de revolucionar a literatura brasileira. Há, nesse período, também uma tendência nacionalista, mas não o nacionalismo ufanista dos românticos, mas um nacionalismo crítico, capaz de expressar a complexidade da realidade brasileira. 

b) Diferenças estéticas: o primeiro poema, de Gonçalves Dias, possui rimas e métrica de sete sílabas poéticas – trata-se de uma redondilha maior. Além disso, é uma obra original que descreve a terra brasileira em seus aspectos naturais. O segundo poema, de Oswald de Andrade, estrutura-se predominantemente em sete sílabas poéticas também, com exceção do segundo verso, que possui seis; no entanto, não possui rimas. A temática é urbana e ele parodia “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias.
Diferenças ideológicas: o primeiro poema pertence ao Romantismo e apresenta um nacionalismo ufanista. Já o segundo é da primeira fase do modernismo e caracteriza-se pela iconoclastia – o que justifica a paródia ao poema do Romantismo –, pela irreverência e pela criticidade.



  
5.   Após a Revolução de Trinta, que levou Getúlio Vargas ao poder, no que diz respeito à educação, podemos identificar basicamente duas correntes opostas: a corrente dos pensadores católicos e a corrente dos reformadores liberais. Sobre a corrente dos reformadores liberais, marque a alternativa CORRETA.
a) A corrente dos reformadores liberais não defendia a educação pública sem distinção de sexo, pois, na década de 1930, no Brasil, era muito importante enfatizar e reforçar os diferentes papéis desempenhados pelos meninos e pelas meninas.   
b) A corrente dos reformadores liberais opunha-se à corrente dos pensadores católicos, mas convergia num ponto: o que defendia o papel primordial da educação privada, uma vez que o Estado Getulista não possuía condições econômicas de sustentar a educação pública.   
c) A corrente dos reformadores liberais foi explicitamente adotada pelo governo de Getúlio Vargas, uma vez que o Estado Getulista não promoveu nenhuma aproximação com a Igreja Católica na década de 1930.   
d) A corrente dos reformadores liberais defendia o importante papel do ensino público e gratuito, sem distinção de sexo; defendia, ainda, que o Estado não deveria subvencionar as escolas religiosas e que o ensino religioso deveria ficar restrito às escolas privadas confessionais.   
e) Ao longo da década de 1930, o governo Varguista foi se tornando cada vez mais fechado e centralizado na figura de Getúlio. Essa centralização favoreceu uma grande afinidade com a corrente dos reformadores liberais porque este Estado buscava uma educação emancipadora para a sociedade brasileira.   


Resposta:

[D]

A corrente educacional reformadora liberal defendia, entre outras coisas, ensino público gratuito e de qualidade, escolas não divididas por sexo e não inclusão do ensino religioso nas escolas regulares, principalmente nas escolas mantidas pelo governo. 




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