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Assassinato nos Balcãs - O atentado em Sarajevo


Não é a primeira vez que os sérvios – ou iugoslavos - fazem uma limpeza étnica nos Bálcãs. Antes dos albaneses kosovares, as vítimas foram os croatas e os bósnios, principalmente os muçulmanos, cuja religião foi herdada do longo domínio turco otomano na região até pouco antes da Primeira Guerra Mundial.

Aliás, os sérvios já estiveram envolvidos na deflagração da Primeira Guerra. Foi um estudante sérvio chamado Gavrilo Princip, pertencente a uma associação secreta conhecida como "Mão Negra", quem assassinou o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono da Áustria. O atentado bem sucedido, ocorrido na cidade de Saraievo na Bósnia, culminou com a declaração de guerra contra a Sérvia por parte do Império Austro-Húngaro. Os países europeus foram, um a um, arrastados para o conflito que durou quatro anos, de 1914 a 1918.
o dia 28 de junho de 1914, no aprazível verão de Sarajevo, capital da província austríaca da Bósnia-Herzegovina, na região dos Bálcãs, ocorreu um atentado que mudou o destino de milhões de europeus e de boa parte do mundo. O arquiduque Francisco Ferdinando e sua esposa, Sofia Chotek, foram assassinados a tiros por um jovem de origem sérvia, chamado Gavrilov Princip. O terrorista com aqueles disparos demonstrava o repúdio do seu grupo étnico à presença austríaca, num ato que tomou dimensões catastróficas.
O enorme carro oficial que conduzia Francisco Ferdinando e sua esposa pelas ruas de Sarajevo, naquela manhã de sol do verão balcânico, era antes de tudo uma temeridade. Andava com a capota arriada, e o casal, sob o ponto de vista da segurança, estava completamente exposto a qualquer tipo de atentado, fosse a pistola ou a bomba. Cabrinovic, um dos sete terroristas sérvios-bósnio que estavam em meio à multidão que se postava pelas calçadas, assim que viu o cortejo de seis automóveis passar, lançou o petardo diretamente sobre o que conduzia o arquiduque e sua esposa. Neste nesse primeiro momento do atentado, que desdobrou-se em dois atos ao longo daquele dia fatídico, graças ao motorista ter acelerado a viatura, a explosão deu-se embaixo das rodas de um outro automóvel que vinha atrás, ferindo dois membros da comitiva de Sua Alteza. O arquiduque Ferdinando, furioso com o desleixo e a negligência do pessoal local que lhe devia dar proteção, assim que completou a visita ao prefeito, resolveu novamente se expor. Cismou em fazer uma visita aos feridos no atentado da manhã, recolhidos ao hospital Sarajevo.

Os Tiros
"Sopherl! Sopherl! Sterbe nicht! Bleibe am Leben für unsere Kinder!"
(Sofia, Sofia! Não morra! Fique viva para nossos filhos!)
Arquiduque Ferdinando para sua mulher Sofia
Então deu-se o fado. À tarde, o motorista, não sabendo exatamente onde era o endereço, enviesou-se por uma rua errada. Ao ser advertido pelo governador Potiorek, o hospedeiro do ilustre casal, tratou de dar uma ré, indo parar bem em frente ao café Shiller, onde se encontrava um dos outros terroristas. O jovem Gavrilov Princip nem pôde acreditar quando, como um caçador surpreendido por sua presa, viu suas vítimas a poucos passos dele. Rapidamente adiantou-se para o veículo e de pouca distância disparou diretamente sobre o casal visitante. Encerrava assim o segundo ato do atentado de Sarajevo.
O arquiduque foi ferido no pescoço, enquanto sua mulher teve o abdome perfurado. Ele ainda murmurou-lhe algo ante de morrer, mas ela não durou muito mais. Ao serem levados até o palácio governamental, ambos lá chegaram mortos.
O estopim em Sarajevo – Causa espanto pensar que um crime isolado cometido de forma solitária por um jovem extremista possa mergulhar o mundo todo numa guerra. Foi exatamente isso, porém, que ocorreu nas últimas semanas. No último dia 28 de junho, o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, foi alvejado à queima-roupa em Sarajevo por um estudante sérvio, Gavrilo Princip, ligado à organização nacionalista Mão Negra. Contudo, pela demora na reação do império Austro-Húngaro, o atentado, que ceifou também a esposa do nobre, Sofia, não parecia tomar grandes dimensões, muito menos funcionar como a centelha que seria capaz de inflamar a Europa. Passaram-se três longas semanas até que o estafe do imperador Francisco José encaminhasse à Sérvia um ultimato. Nessa mensagem, além de acusar implicitamente o governo sérvio de estar envolvido no crime, Viena elencava uma série de exigências visando reforçar a soberania austro-húngara nos Bálcãs. Entregue no dia 23 de julho, o documento foi respondido pela Sérvia dois dias depois – e, para surpresa geral, contestado em apenas pequenas cláusulas. Em resumo, o governo sérvio, apesar de negar qualquer participação no atentado, aceitava as requisições e termos da carta. Mesmo assim, o império Austro-Húngaro decidiu pela declaração de guerra, no dia 28 de julho. E o efeito dominó não tardaria a chegar às demais nações europeias.
Respeitando um tratado de amizade com a Sérvia, a Rússia logo anunciou a mobilização de seu gigantesco exército para a defesa dos eslavos. Por outro lado, a Alemanha, que já assinara um pacto com o império Austro-Húngaro, considerou a decisão russa um ato de guerra contra seus aliados, e declarou guerra à Rússia. Na verdade, o apoio do Reichstag alemão já havia sido sacramentado antes mesmo que o ultimato à Sérvia fosse enviado. Consultado pelo governo de Francisco José, os germânicos garantiram total suporte a Viena, qualquer que fosse o resultado da ação. Dando continuidade à sequência, a França, comprometida com Rússia também através de um tratado, conclamou guerra contra a Alemanha e, por tabela, contra o império Austro-Húngaro. Aqui, a cadeia poderia ter sido rompida: aliada dos gauleses por um pouco consistente pacto verbal, a Grã-Bretanha não se via obrigada a juntar-se à França na contenda.
Desde os anos 1870, os insulares propalavam aos quatro ventos sua política de "isolamento esplêndido", evitando interferir na política continental europeia. Entretanto, a marcha alemã na neutra Bélgica fez o primeiro-ministro Herbert Asquith resgatar um acordo assinado há 75 anos – o Tratado de Londres, pelo qual os britânicos se comprometiam a defender a Bélgica em caso de invasão –, e ingressar com as duas botas nas hostilidades. A entrada da Grã-Bretanha surpreendeu a Alemanha e fortaleceu as hostes da Tríplice Entente. As colônias Austrália, Canadá, Índia, Nova Zelândia e União da África do Sul ofereceram assistência militar e financeira aos aliados. Também o Japão, ligado aos britânicos por um tratado militar de 1902, declarou guerra aos germânicos, no dia 23 de agosto. O conflito já tinha, de fato, uma escala mundial, com repercussões sentidas muito além das fronteiras europeias

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